Vive-se hoje entre duas tend�ncias opostas e excludentes: a do relativismo absoluto e a da intoler�ncia absurda. As conseq��ncias tanto de uma quanto de outra ser�o a anarquia e a viol�ncia.Christian Smith, professor de sociologia na Universidade de N�tre Dame, nos EUA publicou um livro intitulado Lost in Transition: the Dark Side of Emerging Adulthood (Oxford University Press).= Perdidos na Transi��o: O lado escuro dos adultos emergentes.Trata-se de uma pesquisa com jovens de 18 a 23 anos. O primeiro cap�tulo intitula-se�� deriva moral. Nele aparece que os jovens t�m uma vis�o muito individualista da moral. Eles acham que ningu�m pode ser moralmente julgado. Todos t�m direito a opini�es pessoais. Segundo esta postura algumas a��es s�o adequadas e outras menos adequadas. N�o se pode dizer, por�m, que algo seja objetiva e moralmente bom ou mau. A id�ia de que a moral � uma constru��o da sociedade e da cultura pode chegar t�o longe que, num debate, um jovem n�o exprimiu ju�zo negativo sobre a escravid�o. Outro defendeu a retid�o moral dos terroristas que causam a morte de multid�es. �Eles (os terroristas) s�o assim, fazem o que acham que � melhor, por isso fazem o bem�.
A liturgia do pr�ximo domingo traz, para a nossa reflex�o, a par�bola do semeador que saiu a semear, narrada pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. No decorrer dos s�culos, esta par�bola, de not�vel beleza po�tica, foi muito comentada. S�o Jo�o Cris�stomo, Bispo de Constantinopla que viveu no s�culo V, numa homilia a seus fi�is fez o seguinte coment�rio.N�o � conceb�vel, me direis v�s, que se semeie entre os espinhos, em terreno pedregoso e na beira da estrada. Digo-vos que, de fato, a coisa seria absurda, se fosse semeadura terrena feita neste mundo. No entanto, � muito louv�vel esta semeadura, dado que se trata de almas e da doutrina divina. Com certeza, seria repreendido o agricultor que, deste modo, desperdi�asse as sementes. O terreno pedregoso, jamais se tornar� terra boa, o caminho n�o vai mudar e os espinhos continuar�o espinhos. Mas n�o � assim, na ordem espiritual. As pedras podem mudar e se tornarem terra f�rtil. A estrada mais batida pode deixar de ser pisada e aberta a todos os passantes, para tornar-se campo produtivo. Os espinhos tamb�m podem desaparecer para deixar crescer e frutificar com toda a liberdade o gr�o semeado. Se estas mudan�as fossem imposs�veis o Senhor n�o teria semeado. E se a transforma��o n�o aconteceu em todos, a culpa n�o � do semeador, mas daqueles que n�o quiseram mudar de vida. O semeador realizou aquilo que era de sua compet�ncia. Se os homens n�o corresponderam � sua obra, n�o � respons�vel o semeador que testemunhou t�o grande amor pelos homens.Prestai aten��o, vos pe�o, pois o caminho da perdi��o n�o � �nico, mas v�rios, bem diferentes, e distantes uns dos outros. � claro que as almas comparadas com o �o caminho� s�o os negligentes, os t�pidos e os relaxados. Os que s�o representados pelo �terreno pedregoso� s�o os fracos. De fato, Cristo declara: �A semente que caiu em terreno pedregoso � aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas ele n�o tem raiz em si mesmo, � de momento: quando chega um sofrimento ou a persegui��o por causa da palavra, ele desiste logo�. E antes havia dito: �Todo aquele que ouve a palavra do Reinoe n�o a compreende, vem o maligno e rouba o que foi semeado em seu cora��o. Esse � o que foi semeado � beira do caminho�. N�o �, portanto, a mesma coisa desprezar o ensinamento divino, quando n�o somos molestados ou perseguidos, ou perd�-lo quando nos sobrev�m provas e tenta��es. De todas estas situa��es, os menos dignos de perd�o, s�os que foram comparados com os espinhos.Se quisermos evitar que qualquer coisa semelhante nos aconte�a, acolhamos a Palavra de Deus com o fervor de nossa alma e com a recorda��o constante de nossa mem�ria. Se o diabo se esfor�a para nos roubar, depende de n�s anular os seus esfor�os. Se a planta seca, n�o � por causa do excesso de calor. Jesus n�o disse que foi o calor que secou a planta, mas o fato de n�o ter raiz em si mesma. Se a Palavra divina for sufocada, n�o foi por culpa dos espinhos, mas daqueles que os deixaram crescer (In Math 44,3s).Em nossos dias, o Papa Francisco, comentando a mesma par�bola, usa igual chave de leitura e afirma que �o verdadeiro protagonista � a semente, que produz mais ou menos frutos, de acordo com a terra sobre a qual caiu. Os primeiros tr�s terrenos s�o improdutivos. � beira do caminho os p�ssaros comem a semente. No terreno pedregoso, as mudas secam imediatamente porque n�o t�m ra�zes. Em meio aos arbustos, a semente � sufocada pelos espinhos. A quarta terra � a boa, e somente ali a semente produz frutos.Esta par�bola, frisa Francisco, hoje fala a cada um de n�s, como falava aos que ouviam Jesus dois mil anos atr�s. Recorda-nos que somos o terreno onde o Senhor lan�a incansavelmente a semente da sua Palavra e do seu amor. Todavia com que disposi��o a acolhemos? Com que terra nos parecemos? Com a beira do caminho, com um pedregulho, ou com um terreno cheio de ervas daninhas? Depende de n�s nos tornar terra boa, sem espinhos nem pedras, mas arada e cultivada com carinho, para que possamos produzir bons frutos para n�s e para nossos irm�os.Como podemos notar, atrav�s destes dois coment�rios, um l� do come�o da Igreja e o outro, de nossos dias, a forma como acolhemos a Palavra de Deus � de fundamental import�ncia. Quem � fiel a Deus e cultiva a f� sente a alegria de poder verificar que a Palavra cresceu e se desenvolveu porque seu cora��o � terra f�rtil. Se, ao contr�rio, algu�m perceber que a Palavra de Deus n�o teve efeito em sua vida, tem tempo ainda para se penitenciar e transformar-se em terra boa.Dom Manoel Jo�o FranciscoBispo da Diocese de Corn�lio Proc�pio
No pr�ximo domingo estaremos iniciando um novo tempo lit�rgico: o Advento. Como sabemos, o Advento � um tempo muito especial na vida de todos n�s crist�os e crist�s. � o per�odo de quatro semanas que antecede o Natal. A palavra "Advento" significa "vinda" ou "chegada". S�o tr�s os Adventos do Senhor. O primeiro aconteceu na humildade da gruta de Bel�m. Dele fizemos mem�ria na noite de Natal, contemplando enternecidos o Menino deitado numa manjedoura. O segundo haver� de acontecer no esplendor da gl�ria no fim dos tempos. Para ele caminhamos, na esperan�a de encontrar Aquele que h� vir "para julgar os vivos e os mortos". O terceiro acontece entre o primeiro e o segundo. Jesus o prometeu quando disse: "Se algu�m me ama cumprir� minha Palavra, meu Pai o amar�, n�s viremos a ele, e nele faremos nossa morada" (Jo 14,23). Este Advento cont�nuo e atual significa que Cristo, n�o s� veio e vir�, mas, vem agora, atrav�s dos sacramentos, da escuta atenta e comprometida de sua Palavra, atrav�s do irm�o e da irm�, especialmente daquelas e daqueles mais empobrecidos e exclu�dos da sociedade. Este terceiro Advento do Senhor � muito importante. Como lembra Or�genes: "De nada teria adiantado o nascimento de Cristo em Bel�m, se n�o nascesse tamb�m em nossa alma". O grande Bispo de El Salvador, dom Romero, concluiu seu serm�o de 27 de novembro de 1977, com estas palavras: "Vigil�ncia � a disposi��o espiritual que este bonito tempo de prepara��o para o Natal deve fazer brotar. Cristo vem. N�o podemos esper�-lo como crian�as ansiosas por brinquedos. N�s o esperamos como crist�os. Sabemos que ele j� veio, mas que tamb�m anunciou uma segunda vinda, para surpreender-nos no caminho de ida e colher-nos ali, onde cairemos mortos para, com ele, come�ar a reinar.[...]. N�o podemos nos instalar, nem nos apegar, muito menos perder, por causa dos bens do poder da terra, os encantos do Reino de Deus". Vigil�ncia sim! � o que vamos pedir com frequ�ncia durante o tempo de Advento que estamos para iniciar. Por exemplo, na ora��o da missa da segunda feira da primeira semana n�s pedimos: "Senhor nosso Deus, dai-nos esperar sol�citos a vinda do Cristo, vosso Filho. Que ele, ao chegar, nos encontre vigilantes". Na missa do primeiro domingo n�s pedimos: "� Deus todo poderoso, concedei a vossos fi�is o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos � sua direita na comunidade dos justos". A proposta da Igreja, no entanto, corre o risco de n�o ser acolhida, pois neste per�odo do Advento, somos influenciados por um concorrente muito forte: o com�rcio, com seus agentes em plena atividade. As vitrines e as propagandas nos envolvem numa onda de consumismo e podem nos fazer correr o risco de n�o reconhecer o motivo principal do Advento e do Natal � Jesus Cristo - como aconteceu com muitos, por ocasi�o de sua primeira vinda. "Ele veio para a sua casa, mas os seus n�o o receberam" (Jo 1,11). De nossa parte vamos procurar n�o nos deixar levar pela atmosfera pag�, orquestrada pela propaganda comercial que invade ruas e casas de nossas cidades.Dom Manoel Jo�o FranciscoBispo da Diocese de Corn�lio Proc�pio
No final desta semana e in�cio da pr�xima, o Brasil inteiro estar� envolto pelas festividades carnavalescas. Os jornais e telejornais do mundo inteiro estar�o comentando o luxo das fantasias, bem como a euforia dos sambistas e foli�es. Um grande n�mero de pessoas estar� participando de desfiles, acompanhando trios el�tricos, formando blocos de rua, ou outras manifesta��es momescas. Um grupo menor vai ocupar o feriado prolongado para ir � praia ou ao s�tio com a finalidade de curtir um lazer mais pr�ximo da natureza. Outros v�o aproveitar para alguma viagem, visitar amigos e familiares, al�m de conhecer novos lugares. Outros ainda, mas estes em n�mero bem reduzido, v�o vivenciar o tempo do carnaval com retiros espirituais e outras atividades relacionadas com a religi�o, buscando uma experi�ncia mais profunda com Deus.Segundo alguns estudiosos, o carnaval � uma festa pr�-crist�. Pode-se atestar sua exist�ncia j� no s�culo VI a.C. Os gregos e, mais tarde, os romanos, no in�cio do ano, no m�s de janeiro ou fevereiro, quando o inverno come�ava a dar sinais de que estava chegando no fim, organizavam grandes festividades com desfiles de carros aleg�ricos e muita dan�a de rua. Um dos carros, dedicado a Baco, deus do vinho, era em forma de navio e tinha o nome de�currus navalis. Destas duas palavras originou-se o termo carnaval. Segundo esses autores, as pinturas de alguns vasos gregos representam os desfiles e as m�scaras usadas nos dias de carnaval.Na opini�o de outros estudiosos, o carnaval � uma festa de origem crist�. Tr�s dias antes da 4� feira de cinzas, o povo se descontra�a, com brincadeiras, dan�as, comidas e bebidas, pois sabia que os quarenta dias da Quaresma, que estavam para iniciar, deveriam ser dias de muita austeridade, muita abstin�ncia, principalmente de carne, e muito jejum. A palavra carnaval, nesta vers�o, viria de �carne vale�, ou seja, �adeus carne�.A alegria � uma caracter�stica dos crist�os. S�o Paulo, em sua carta aos Filipenses exorta: �alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos�! (Fp 4,4). O Papa Francisco, no in�cio de sua Exorta��o Apost�lica,�Alegria do Evangelho faz a seguinte afirma��o: �A alegria do Evangelho enche o cora��o e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quando se deixam salvar por ele s�o libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria�. Logo em seguida alerta que �o grande risco do mundo atual, com sua m�ltipla e avassaladora oferta de consumo, � uma tristeza individualista que brota do cora��o comodista e mesquinho, da busca desordenada dos prazeres superficiais, da consci�ncia isolada�.A Igreja, portanto, n�o � contra o carnaval, enquanto express�o aut�ntica de alegria. O fato, por�m, � que em geral a verdadeira alegria do carnaval se degenerou. O carnaval passou a ser uma ocasi�o em que tudo � permitido. Neste per�odo, o com�rcio de drogas legais e ilegais se intensifica, a viol�ncia foge do controle, a libertinagem predomina. Muita gente confunde alegria com euforia. Sem d�vida que a alegria tamb�m se manifesta atrav�s da euforia, mas nem sempre a euforia � sinal de alegria. Muitas vezes, a euforia n�o passa de m�scara para esconder problemas mal resolvidos, dores e m�goas acumuladas. Algumas pessoas pensam afogar as m�goas nos dias de carnaval com muita bebida e outras extravag�ncias. Enganam-se. As m�goas sabem nadar. Elas precisam e podem ser solucionadas, mas de outro modo. Nada impede que brinquemos e nos divirtamos nos dias de carnaval. No entanto, � preciso que o carnaval retome o seu sentido original. Como lembra Dom Dem�trio Valentini, bispo em�rito de Jales, no Estado de S�o Paulo, temos necessidade de �de novo sentir a alegria de sermos um povo que vive em paz, que rejeita a viol�ncia, e que sabe expressar sua alegria de maneira art�stica e, ao mesmo tempo, espont�nea�. Completando seu pensamento, Dom Dem�trio, pede que �as escolas de samba caprichem, que todos aplaudam seus desfiles, que o carnaval seja bonito em toda parte, e que a viol�ncia seja banida, nestes dias e ao longo de todo este ano�.Dom Manoel Jo�o FranciscoBispo da Diocese de Corn�lio Proc�pio
No pr�ximo domingo os cat�licos do mundo inteiro estar�o celebrando a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, titular da Catedral de nossa Diocese. Esta � uma festa recente. Foi institu�da pelo Papa Pio XI em 1931. Sua inspira��o, no entanto, � b�blica. Jesus � rei. Por ocasi�o do seu nascimento, os Magos do Oriente se referem a ele como �o rei que acaba de nascer� (Mt 2,2). No in�cio de seu minist�rio encontra-se com Natanel que, surpreso, exclama: �Rabi, tu �s o Filho de Deus, tu �s o Rei de Israel� (Jo 1,49). No Domingo de Ramos, a multid�o aclamou Jesus dizendo: �Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!�. Diante de Pilatos, interrogado sobre sua realeza, Jesus n�o titubeia e responde: �Tu o dizes� (Lc 23,3), mas de imediato esclarece: �O meu reino n�o � deste mundo� (Jo 18,36). Por toda parte onde iam, os Ap�stolos pregavam que Jesus era rei (cf. At 17,7). Em suas ora��es e c�nticos, os crist�os gostavam de dirigir-se ao Cristo, como �Rei das na��es, �nico soberano, Rei dos reis, Senhor dos senhores, Rei dos s�culos, Deus imortal, merecedor de honra e gl�ria pelos s�culos dos s�culos� (cf. 1Tm 6,15; 1,17; Apc 15,3; 17,14; 19,16).O Reino de Cristo, como ele mesmo falou, n�o � deste mundo. Alguns pensam que Jesus estava se referindo ao Reino escatol�gico cujo pleno advento ser� precedido por grandes cat�strofes, e que admitir� ent�o em seu seio apenas os justos (Mt 25,20; 7,21; 18,3; 23,13). Esta interpreta��o n�o est� correta. O pr�prio Jesus faz quest�o de dizer que seu Reino est� aqui, nesta terra, no meio de n�s (Lc 11,20; 17,21). Com a express�o �meu Reino n�o � deste mundo�, Jesus quis dizer que ele era um Rei diferente dos reis das na��es que dominam sobre elas e ainda se fazem chamar benfeitores (cf. Lc 22,25). Jesus � Rei montado num jumento, ou seja, um Rei que promove a paz e n�o a guerra, um Rei que se coloca no meio dos seus para servir e n�o para ser servido.Muitas vezes o Reino de Cristo � confundido com a Igreja. � bom que fique bem claro: o Reino de Cristo n�o se identifica com nada deste mundo, nem mesmo com a Igreja. A Igreja est� a servi�o do Reino, � seu sacramento. O Reino se faz presente sempre que a Igreja se envolve na luta em favor da vida, da dignidade e dos direitos das pessoas, especialmente dos pobres e dos exclu�dos. No Reino de Cristo, a lei � o amor. Cidad�os do Reino de Cristo s�o aqueles que movidos pelo amor d�o de comer aos que t�m fome, de beber aos que t�m sede, ao estrangeiro recebem em sua casa, ao nu d�o o que vestir, ao doente dispensam cuidados, ao prisioneiro confortam com sua visita (cf. Mt 25,35-36). A cidadania no Reino n�o depende s� de n�s. �, antes de tudo, gra�a, dom. Como j� disse algu�m � dom de uma conquista. Pe�amos ao Rei este dom, como ele mesmo nos ensinou: �Venha a n�s o vosso Reino�.Dom Manoel Jo�o FranciscoBispo da Diocese de Corn�lio Proc�pio