Palavra do Pastor - Joio e trigo
Vive-se hoje entre duas tendências opostas e excludentes: a do relativismo absoluto e a da intolerância absurda. As conseqüências tanto de uma quanto de outra serão a anarquia e a violência. Christian Smith, professor de sociologia na Universidade de Nôtre Dame, nos EUA publicou um livro intitulado Lost in Transition: the Dark Side of Emerging Adulthood (Oxford University Press).= Perdidos na Transição: O lado escuro dos adultos emergentes. Trata-se de uma pesquisa com jovens de 18 a 23 anos. O primeiro capítulo intitula-se À deriva moral. Nele aparece que os jovens têm uma visão muito individualista da moral. Eles acham que ninguém pode ser moralmente julgado. Todos têm direito a opiniões pessoais. Segundo esta postura algumas ações são adequadas e outras menos adequadas. Não se pode dizer, porém, que algo seja objetiva e moralmente bom ou mau. A idéia de que a moral é uma construção da sociedade e da cultura pode chegar tão longe que, num debate, um jovem não exprimiu juízo negativo sobre a escravidão. Outro defendeu a retidão moral dos terroristas que causam a morte de multidões. “Eles (os terroristas) são assim, fazem o que acham que é melhor, por isso fazem o bem”. Trinta e quatro por cento dos entrevistados declarou que não sabia o que tornava algo moralmente correto ou incorreto. Alguns sequer entenderam as perguntas sobre o assunto. O autor conclui sua pesquisa dizendo que os adultos emergentes, ou seja, a juventude de hoje, têm muita pouca bagagem para encarar os desafios do presente e do futuro, e formam uma geração que fracassou na formação moral. Num outro livro, intitulado Future Cast: What Today´s Trends Mean for Tomorrow World = Projetando o Futuro: O que as Tendências de Hoje significam para o Mundo de Amanhã (Barna Books) escrito por George Barna, fundador do Barna Research Group, o autor constata que apenas 34% dos adultos acredita que existe uma moral absoluta e somente 45% crê “firmemente” que a Bíblia acerta em todos os princípios que ensina. Entre os nascidos de 1984 em diante a cifra cai para 30%. Um psiquiatra, aqui no Brasil, citado por D. Caetano Ferrari, Bispo de Bauru, sem identificá-lo afirma o seguinte: “A cultura pela qual eu luto tenta propor a menor gestão das vidas possível. É inspirada por um grande valor (o maior talvez) da cultura burguesa (desde os libertinos do século 17, até hoje) – a idéia de que na vida privada, cada um pode encontrar os prazeres de sua vida livremente – óbvio, com o consentimento dos que o acompanham. Ninguém deve se comportar conforme algum código de comportamento que vale para sempre, pois não há idéias e valores como verdades eternas, tudo não passa de construções humanas, históricas, mutáveis com o tempo” Estas pessoas vivem sob o domínio do relativismo. Neste clima não é possível uma ordenação social. Fatalmente se cairá na anarquia e no caos social. Outra pesquisa feita com 15 mil alunos, a partir dos 14 anos e uma parcela de seus pais constatou que dos 18.600 ouvidos, 96,5% admitiram ter preconceitos contra pessoas com deficiência; 94,2% assumiram discriminação contra etnias e raças; 87,3% condenam pessoas por causa da orientação sexual. A pesquisa constatou também que os entrevistados excluíam de seu convívio e brincadeiras as vítimas de seus preconceitos. Aqui também a vida social se torna inviável. O exemplo mais recente é o estado islâmico que semeia a violência e o horror onde se instala. O cristão não pode deixar-se seduzir por nenhuma destas tendências. Nem relativismo absoluto, nem a intolerância absurda. A parábola do joio e do trigo, que vai ser proclamada e refletida nas celebrações do próximo domingo, ilustra de forma magistral como deve ser o comportamento dos cristãos. Quando os empregados estão prontos para arrancar o joio, o patrão intervém e não permite. “Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro até a colheita”. A proposta, portanto, é a da paciência e da tolerância. Trigo não é joio e joio não é trigo como querem os relativistas, mas também não é possível uma lavoura de trigo sem a presença de algum joio, como querem os intolerantes radicais. Não existe o mal quimicamente puro, nem o bem quimicamente puro. Por isso é falsa a opinião, tanto dos que acham ser tudo permitido, quanto dos que tudo ou quase tudo condenam. A vontade de Deus é que todos convivam, sem se excluírem, até o momento final da opção definitiva.Dom Manoel João FranciscoBispo da Diocese de Cornélio Procópio