No próximo domingo os católicos do mundo inteiro estarão celebrando a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, titular da Catedral de nossa Diocese. Esta é uma festa recente. Foi instituída pelo Papa Pio XI em 1931. Sua inspiração, no entanto, é bíblica. Jesus é rei. Por ocasião do seu nascimento, os Magos do Oriente se referem a ele como “o rei que acaba de nascer” (Mt 2,2). No início de seu ministério encontra-se com Natanel que, surpreso, exclama: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1,49). No Domingo de Ramos, a multidão aclamou Jesus dizendo: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!”. Diante de Pilatos, interrogado sobre sua realeza, Jesus não titubeia e responde: “Tu o dizes” (Lc 23,3), mas de imediato esclarece: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Por toda parte onde iam, os Apóstolos pregavam que Jesus era rei (cf. At 17,7). Em suas orações e cânticos, os cristãos gostavam de dirigir-se ao Cristo, como “Rei das nações, único soberano, Rei dos reis, Senhor dos senhores, Rei dos séculos, Deus imortal, merecedor de honra e glória pelos séculos dos séculos” (cf. 1Tm 6,15; 1,17; Apc 15,3; 17,14; 19,16).O Reino de Cristo, como ele mesmo falou, não é deste mundo. Alguns pensam que Jesus estava se referindo ao Reino escatológico cujo pleno advento será precedido por grandes catástrofes, e que admitirá então em seu seio apenas os justos (Mt 25,20; 7,21; 18,3; 23,13). Esta interpretação não está correta. O próprio Jesus faz questão de dizer que seu Reino está aqui, nesta terra, no meio de nós (Lc 11,20; 17,21). Com a expressão “meu Reino não é deste mundo”, Jesus quis dizer que ele era um Rei diferente dos reis das nações que dominam sobre elas e ainda se fazem chamar benfeitores (cf. Lc 22,25). Jesus é Rei montado num jumento, ou seja, um Rei que promove a paz e não a guerra, um Rei que se coloca no meio dos seus para servir e não para ser servido.Muitas vezes o Reino de Cristo é confundido com a Igreja. É bom que fique bem claro: o Reino de Cristo não se identifica com nada deste mundo, nem mesmo com a Igreja. A Igreja está a serviço do Reino, é seu sacramento. O Reino se faz presente sempre que a Igreja se envolve na luta em favor da vida, da dignidade e dos direitos das pessoas, especialmente dos pobres e dos excluídos. No Reino de Cristo, a lei é o amor. Cidadãos do Reino de Cristo são aqueles que movidos pelo amor dão de comer aos que têm fome, de beber aos que têm sede, ao estrangeiro recebem em sua casa, ao nu dão o que vestir, ao doente dispensam cuidados, ao prisioneiro confortam com sua visita (cf. Mt 25,35-36). A cidadania no Reino não depende só de nós. É, antes de tudo, graça, dom. Como já disse alguém é dom de uma conquista. Peçamos ao Rei este dom, como ele mesmo nos ensinou: “Venha a nós o vosso Reino”.Dom Manoel João FranciscoBispo da Diocese de Cornélio Procópio