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Catequese do Papa

O Papa exorta a rezar confiando na vontade amorosa de Deus

Na catequese de hoje o Papa Bento XVI animou os católicos a rezarem confiando sempre na vontade amorosa de Deus que sempre escuta as orações de seus filhos embora às vezes "pareça" o contrário. Assim indicou o Santo Padre na audiência geral desta quarta-feira na Sala Paulo VI no Vaticano.
Diante de milhares de fiéis provenientes de diversas nações do mundo, o Santo Padre meditou sobre a oração de Jesus na que Ele pede a cura das doenças. Para isso se centrou nos episódios do surdo-mudo e na ressurreição de seu amigo Lázaro.
O Papa disse que a cura do surdo-mudo nos mostra que "a ação curadora de Jesus está conectada com a sua intensa relação, tanto com o próximo – o doente – quanto com o Pai. (...) Com um gesto, o Senhor toca as orelhas e a língua do doente, ou seja, os locais específicos da sua enfermidade. A intensidade da atenção de Jesus manifesta-se ainda nos traços peculiares da cura: Ele usa os próprios dedos e, até mesmo, a própria saliva. Também o fato de que o Evangelista reporte a palavra original utilizada pelo Senhor – "Éfata", ou seja, "Abre-te" – evidencia o caráter singular da cena.
"O conjunto da narração, portanto, mostra que o envolvimento humano com o doente leva Jesus à oração. Mais uma vez ressurge a sua relação única com o Pai, a sua identidade de Filho Unigênito. N'Ele, através de Sua Pessoa, torna-se presente o agir curador e benéfico de Deus".
Na ressurreição de Lázaro, prosseguiu o Papa, também se entrelaçam a relação de Jesus com um amigo e seu sofrimento, e a relação filial com o Pai: "o afeto sincero pelo amigo é evidenciado também pelas irmãs de Lázaro, bem como pelos Judeus, e manifesta-se na comoção profunda de Jesus frente à dor de Marta e Maria e de todos os amigos de Lázaro, ao ponto de romper em prantos – tão profundamente humano – ao aproximar-se da sepultura".
Bento XVI disse logo que Cristo interpreta a morte do amigo "em relação com a própria identidade e missão e com a glorificação que Lhe espera. À notícia da doença de Lázaro, de fato, Ele comenta: "Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus".
Assim, "o momento da oração explícita de Jesus ao Pai em frente à sepultura é o começo natural de todo o acontecimento". Narra o evangelista João: "Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: 'Pai, rendo-te graças, porque me ouviste’: é uma Eucaristia".
Esta frase, afirmou o Papa Bento XVI, "a frase revela que Jesus não deixou nem sequer por um instante a oração de súplica pela vida de Lázaro. Essa oração contínua, mais ainda, reforçou os laços com o amigo e, ao mesmo tempo, confirmou a decisão de Jesus de permanecer em comunhão com a vontade do Pai, com o seu plano de amor, no qual a doença e a morte de Lázaro são consideradas como um lugar em que se manifesta a glória de Deus".
O Pontífice disse logo que este relato nos faz compreender que "na oração de súplica ao Senhor, não devemos esperar um cumprimento imediato daquilo que nós pedimos, da nossa vontade, mas confiar-nos antes de mais nada à vontade do Pai, lendo cada evento na perspectiva da sua glória, do seu plano de amor, muitas vezes misterioso aos nossos olhos".
"Por isso, na nossa oração, súplica, louvor e agradecimento deveriam fundir-se, também quando nos parece que Deus não responde às nossas expectativas concretas. O abandonar-se ao amor de Deus, que nos precede e acompanha sempre, é uma das atitudes de fundo do nosso diálogo com Ele".
"Também para nós, portanto, muito além daquilo que Deus nos dá quando O invocamos, o maior dom que pode nos dar é a Sua amizade, a Sua presença, o Seu amor. Ele é o tesouro precioso a se pedir e proteger sempre".
O Santo Padre indicou além que " Com a sua oração, Jesus quer conduzir à fé, à confiança total em Deus e na Sua vontade, e quer mostrar que este Deus que tanto amou o homem e o mundo a ponto de mandar Seu Filho unigênito (cf. Jo 3,16) é o Deus da vida, que leva esperança e é capaz de derrubar as situações humanamente impossíveis. A oração confiante de um crente, portanto, é um testemunho vivo dessa presença de Deus no mundo, do seu interessar-se pelo homem, do seu agir para realizar o seu plano de salvação ".
"Em Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a atenção pelo outro, especialmente se necessitado e sofredor, o comover-se frente à dor de uma família amiga, levam-nO a dirigir-se ao Pai, naquela relação fundamental que guia toda a sua vida. Mas também vice-versa: a comunhão com o Pai, o diálogo constante com Ele, impele Jesus a estar atento de modo único às situações concretas do homem, para levar a ele a consolação e o amor de Deus".
“Queridos irmãos e irmãs, nossa oração abre a porta a Deus, que nos ensina a sair constantemente de nós mesmos para sermos capazes de nos fazer próximos dos outros, especialmente nos momentos de provação, para levar a eles consolação, esperança e luz”. 
“O Senhor nos conceda sermos capazes de uma oração sempre mais intensa, para reforçar nossa relação pessoal com Deus Pai, alargar nosso coração à necessidade dos que nos são próximos e sentirmos a beleza de ser "filhos no Filho", unidos com tantos irmãos”, concluiu o Papa.
Ao final da catequese, o Santo Padre saudou em diversos idiomas incluindo o português e disse: “Saúdo cordialmente os grupos brasileiros da diocese de Pato de Minas e da paróquia de Silvânia e restantes peregrinos de língua portuguesa, a todos recordando que a oração abre a porta da nossa vida a Deus. E Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros que vivem na prova, dando-lhes consolação, esperança e luz. De coração, a todos abençôo em nome do Senhor!

Catequese de Bento XVI - 23/11/2011

Caros irmãos e irmãs

Estão vivas em mim as impressões suscitadas pela recente viagem apostólica a Benin, sobre a qual desejo deter-me. Brota espontaneamente na minha alma o rendimento de gratidão ao Senhor: na Sua providência, Ele quis que eu retornasse a Africa pela segunda vez como sucessor de Pedro, em ocasião do 150º aniversário do início da evangelização em Benin e para assinar e entregar oficialmente às comunidades eclesiais africanas a Exortação Apostólica pós-sinodal Africae Munus. Neste importante documento, depois de ter refletido sobre as análises e sobre as propostas que surgiram da Segunda Assembléia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, que aconteceu no Vaticano em outubro de 2009, quis oferecer algumas linhas para a ação pastoral no grande Continente Africano. Ao mesmo tempo quis render homenagem e rezar sobre a tumba de um ilustre filho de Benin e da África, e grande homem da Igreja, o inesquecível Cardeal Bernardim Gantin, cuja venerável memória é mais do que viva em seu país, que o considera um Pai da nação e de todo o continente.
Desejo hoje repetir o meu mais vivo agradecimento àqueles que contribuiram com a realização desta minha peregrinação. Antes de tudo, estou muito grato ao presidente da República, que com grande cortesia, me ofereceu a sua cordial saudação e de todo o país, o arcebispo de Cotonou e aos outros veneráveis irmãos no espiscopado que me acolheram com afeto. Agradeço, além disso, aos sacerdotes, religiosos e religiosas, os diáconos, os catequistas e os inumeráveis irmãos e irmãs, que com tanta fé e fervor me acompanharam durante estes dias de graça. Vivemos juntos uma tocante experiencia de fé e de renovado encontro com Jesus Cristo vivo, no contexto do 150º aniversário de evangelização de Benin.
Depositei os frutos da Segunda Assembléia especial para a África do Sinodo dos Bispos aos pés da Virgem maria, venerada em Benin especialmente na Basílica da Imaculada Conceição de Ouidah. Diante do modelo de Maria, a Igreja na África acolheu a boa nova do Evangelho, gerando muitos povos para a fé. Agora, as comunidades cristãs da África, como sublinhado tanto no tema do Sínodo, como no tema da minha viagem apostólica, são chamadas a renovarem-se na fé para estarem sempre mais a serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Elas também são convidas a reconciliarem-se internamente para tornarem-se instrumentos alegres da misericordia divina, cada uma colocando as próprias riquezas espirituais e materias ao empenho comum.
Este espírito de reconciliação é indispensável, naturalmente, também sobre o plano civil e necessita de uma abertura à esperança que deve animar também a vida sociopolítica e econômica do Continente, como fiz questão de dar relevância no encontro com as Instituições políticas, o Corpo Diplomático e os representantes das religiões. Nesta circunstância quis dar destaque à esperança que deve animar o caminho do continente, relevando o ardente desejo de liberdade e de justiça que, especialmente nesses últimos meses, anima os corações de numerosos povos africanos. Destaquei ainda a necessidade de construir uma sociedade onde o relacionamento entre etnias e religiões diversas seja caracterizadas pelo diálogo e pela harmonia. Convidei todos a serem verdadeiros semeadores de esperança em todas as realidades e em todos os ambientes. 
Os cristãos são por si só homens de esperança, que não podem desinteressarem-se dos próprios irmãos e irmãs: recordei esta verdade também à imensa multidão que veio para a celbração eucarística dominical no Estádio da Amizade de Cotonou. Essa missa de domingo foi um extraordinário momento de oração e de festa da qual participaram milhares de fiéis de Benin e de outros países africanos, dos mais idosos aos mais jovens: um maravilhoso testemunho de como a fé consegue reunir as gerações e sabe responder aos desafios de todas as estações da vida.
Durante esta tocante e solene celebração, entreguei aos presidentes das conferências episcopais da África, a exortação apostólica pos sinodal Africae Munus, a qual eu havia assinado um dia antes em Ouiadah, e é destinada aos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, aos catequistas e aos leigos de todo o Continente Africano. Confiando a esses os frutos da Segunda Assembleia especial para a Africa do Sinodo dos Bispos, pedi-lhes de meditá-los atentamente e de vivê-los em plenitude, para responder eficazmente a empenhativa missão evangelizadora da Igreja peregrina na Africa do terceiro milenio. Neste importante texto, cada fiel encontrará as linhas fundamentais que guiarão e encorajarão o caminho da Igreja na África, chamada a ser sempre mais o sal da terra e a luz do mundo.
A todos dirijo o apelo para que sejam construtores incansáveis de comunhao, de paz e de solidariedade, para cooperar assim na realização do plano de salvação de Deus para a humanidade. Os africanos responderam com o seu entusiasmo ao convite do Papa, e sobre os seus rostos, na fé ardente, na adesão convicta deles ao Evangelho da vida, reconheci mais uma vez sinais consoladores de esperança para o grande Continente Africano.
Toquei com a mão estes sinais também no encontro com as crianças e com o mundo do sofrimento. Na igreja paroquial de Santa Rita, verdadeiramente provei da alegria de viver, a alegria e o entusiasmo das novas gerações que constituem o futuro da África. Na legião festiva das crianças, um dos tantos recursos e riquezas do Continente, apontei a figura de São Kisito, um jovem de Uganda, que foi assassinado porque queria viver segundo o Evangelho e exortei cada um a testemunhar Jesus aos próprios conterrâneos. A visita ao Foyer Paz e Alegria, administrado pelas missionárias da Caridade de Madre Teresa, me fez viver um momento de grande comoção encontrando crianças abandonadas e doentes e me concedeu de ver concretamente como o amor e a solidariedade sabem tornar presente na fraqueza a força e o afeto de Cristo ressuscitado.
A alegria e o ardor apostólico que encontrei entre os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os seminaristas e os leigos, que vieram em grande número, constitui um sinal de segura esperança para o futuro da Igreja em Benin. Exortei todos a uma fé autêntica e viva e a uma vida cristã caracterizadas pela prática das virtudes, e encorajei cada um a viver a respectiva missão na Igreja com fidelidade aos ensinamentos do Magistério, em comunhão entre eles e com os Pastores, indicando especialmente aos sacerdotes a vida de santidade, na consciência que o ministerio não é uma simples função social, mas é levar o homem a Deus.
Momento intenso de comunhão foi o encontro com o Episcopado de Benin, para refletir em particular sobre a origem do anúncio evangélico no País, através da obra dos missionários que generosamente doaram suas vidas, muitas vezes de modo heróico, a fim que o amor de Deus fosse anunciado a todos. 
Os bispos dirigiram um convite para pôr em prática oportunas iniciativas pastorais para suscitar nas famílias, nas paróquias, nas comunidades e nos movimentos eclesiais uma constante redescoberta da Sagrada Escritura, como fonte de renovação espiritual e ocasião de profundidade da fé. De tal renovada ligação com a Palavra de Deus e pela descoberta do proprio batismo, os fiéis leigos encotrarão a força para tesmunhar a fé em Cristo e no seu Evangelho na vida cotidiana. Nesta fase crucial para todo o Continente, a Igreja na África, com seu empenho a serviço do Evangelho, com o corajoso testemunho de grande solidariedade, poderá ser protagonista de uma nova estação de esperança. Na África, vi o frescor do sim à vida, um frescor do sentido religioso e da esperança, uma percepção da realidade na sua totalidade com Deus, não reduzida a um positivismo que, ao final, apaga a esperança. Tudo isso demonstra que naquele Continente existe uma reserva de vida e de vitalidade para o futuro,com a qual, a Igreja pode contar. 
Esta minha viagem constituiu um grande apelo a Africa, para que oriente todo esforço em anunciar o Evangelho àqueles que ainda não o conhecem. Se trata de um renovado empenho para a evangelização, ao qual todo batizado é chamado, promovendo a reconciliação, a justiça e a paz.
A Maria, Mãe da Igreja e Nossa Senhora da África, confio aqueles que pude encontrar nesta minha inesquecível viagem apostólica. A Ela recomendo a Igreja na Africa. A materna intercessão de Maria, cujo coração está sempre orientado à vontade de Deus, sustente todo empenho de conversão, consolide toda iniciativa de reconciliação e renda eficaz todo esforço em favor da paz em um mundo que tem fome e sede de justiça. Obrigado!

 

 

 

Queridos irmãos e irmãs,
nas Catequeses passadas, meditamos sobre alguns Salmos que são exemplos dos gêneros típicos da oração: lamento, confiança, louvor. Na Catequese de hoje, gostaria de deter-me ao Salmo 119 segundo a tradição hebraica, 118 segundo a greco-latina: um Salmo muito particular, único no seu gênero. Antes de tudo, o é pela sua extensão: é composto, de fato, por 176 versículos divididos em 22 estrofes com oito versículos cada.

Além disso, tem a peculiaridade de ser um "acróstico alfabético”: é construído, isto é, segundo o alfabeto hebraico, que é composto de 22 letras. Cada estrofe corresponde a uma letra daquele alfabeto, e com tal letra inicia a primeira palavra dos oito versículos da estrofe. Trata-se de uma construção literária original e muito comprometedora, em que o autor do Salmo busca demonstrar toda a sua bravura.
Mas aquilo que, para nós, é mais importante é a temática central desse Salmo: trata-se, de fato, de um imponente e solene canto sobre a Torá do Senhor, isto é, sobre a sua Lei, termo que, na sua acepção mais ampla e completa, é compreendido como ensinamento, instrução, diretiva de vida; a Torá é revelação, é Palavra de Deus que interpela o homem e provoca a resposta de obediência confiante e de amor generoso. E de amor pela Palavra de Deus é permeado todo este Salmo, que celebra a beleza, a força salvífica, a capacidade de dar alegria e vida. Por que a Lei divina não é jugo pesado de escravidão, mas dom de graça que nos faz livres e leva à felicidade.
"Hei de deleitar-me em vossas leis; jamais esquecerei vossas palavras", afirma o Salmista (v. 16); e depois: "Conduzi-me pelas sendas de vossas leis, porque nelas estão minhas delícias" (v. 35); e ainda: "Ah, quanto amo, Senhor, a vossa lei! Durante o dia todo eu a medito" (v. 97). A Lei do Senhor, a sua Palavra, é o centro da vida do orante; nela, ele encontra consolação, torna-a objeto de meditação, conserva-a no coração: "Guardo no fundo do meu coração a vossa palavra, para não vos ofender", é esse o segredo da felicidade do Salmista; e depois, ainda: "Contra mim os soberbos maquinam caluniosamente, mas eu, de todo o coração, fico fiel aos vossos preceitos" (v. 69).
A fidelidade do Salmista nasce da escuta da Palavra, do guardar no íntimo, meditando-a e amando-a, exatamente como Maria, que "guardava, meditando em seu coração", as palavras que lhe eram dirigidas e os eventos maravilhosos em que Deus se revelava, pedindo sua adesão de fé (cf. Lc 2,19.51). E se o nosso Salmo inicia nos primeiros versículos proclamando "bem-aventurado" "quem caminha na Lei do Senhor" (v. 1b) e "quem guarda os seus preceitos" (v. 2a), é ainda a Virgem Maria que leva ao cumprimento a perfeita figura do crente descrita pelo Salmista. É Ela, de fato, a verdadeira "bem-aventurada", proclamada por Isabel porque "acreditou, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!" (Lc 1, 45), e é d'Ela e da sua fé que Jesus mesmo dá testemunho quando, à mulher que havia gritado "Bem-aventurado o ventre que te carregou", responde: "Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!" (Lc 11,27-28). Certamente, Maria é bem-aventurada porque o seu ventre carregou o Salvador, mas, sobretudo, porque acolheu o anúncio de Deus, porque foi atenta e amorosa guardiã da sua Palavra.

O Salmo 119 é, portanto, todo entecido entorno desta Palavra de vida e bem-aventurança. Se o seu tema central é a "Palavra" e a "Lei" do Senhor, junto a esses termos recorrem em quase todos os versículos alguns sinônimos como "preceitos", "decretos", "mandamentos", "ensinamentos", "promessa", "juízos"; e, depois, tantos verbos a esses relacionados como observar, proteger, compreender, conhecer, amar, meditar, viver. Todo o alfabeto desenvolve-se através das 22 estrofes deste Salmo, e também todo o vocabulário da relação de confiança do crente com Deus; encontramos o louvor, o agradecimento, a confiança, mas também a súplica e o lamento, sempre, no entanto, permeados pela certeza da graça divina e do poder da Palavra de Deus. Mesmo os versículos mais assinalados pela dor e pelo sentimento de escuridão permanecem abertos à esperança e são permeados de fé. "Prostrada no pó está minha alma, restituí-me a vida conforme vossa promessa" (v. 25), reza confiante o Salmista; "Assemelho-me a um odre exposto ao fumeiro, e, contudo, não me esqueci de vossas leis" (v. 83), é o seu grito de crente. A sua fidelidade, ainda que colocada à prova, encontra força na Palavra do Senhor: "Saberei o que responder aos que me ultrajam, porque tenho confiança em vossa palavra" (v. 42), ele afirma com firmeza; e também diante da perspectiva angustiante da morte, os mandamentos do Senhor são o seu ponto de referência e a sua esperança de vitória: "Por pouco não me exterminaram da terra; eu, porém, não abandonei vossos preceitos" (v. 87).
A lei divina, objeto do amor apaixonado do Salmista e de cada crente, é fonte de vida. O desejo de compreendê-la, observá-la, orientar a ela todo o próprio ser é a característica do homem justo e fiel ao Senhor, que a "medita dia e noite", como recita o Salmo 1 (v. 2); é uma lei, aquela de Deus, a se ter "no coração", como diz bem o notável texto do Shema no Deuteronômio. Diz:
Escuta, Israel...
Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração.
Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares (6, 4.6-7).

Centro da existência, a Lei de Deus requer a escuta do coração, uma escuta feita de obediência não servil, mas filial, confiante, consciente. A escuta da palavra é encontro pessoal com o Senhor da vida, um encontro que deve traduzir-se em escolhas concretas e tornar-se caminho e seguimento.
Quando lhe é perguntado o que fazer para ter a vida eterna, Jesus aponta o caminho da observância da Lei, mas indicando como fazer para levá-la à completude, diz: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!" (Mc 10, 21). O cumprimento da Lei é seguir Jesus, andar sobre a estrada de Jesus, na companhia de Jesus.
O Salmo 119 leva-nos, portanto, ao encontro com o Senhor e orienta-nos para o Evangelho. Há nesse um versículo sobre o qual gostaria, agora, de deter-me: é o v. 57: "Minha parte, Senhor, eu o declaro, é guardar as vossas palavras". Também em outros Salmos o orante afirma que o Senhor é a sua "parte", a sua herança: "O Senhor é a minha parte da herança e o meu cálice", recita o Salmo 16 (v. 5a), "Deus é a rocha do meu coração, minha parte para sempre" é a proclamação do fiel no Salmo 73 (v. 23 b), e, ainda, no Salmo 142, o Salmista grita ao Senhor: "És tu o meu refúgio, és tu a minha herança na terra dos viventes" (v. 6b).
Esse termo "parte" evoca o evento da repartição da terra prometida entre as tribos de Israel, quando aos Levitas não é assinalada alguma porção de território, porque a sua "parte" era o Senhor mesmo. Dois textos do Pentateuco são explícitos a esse respeito, utilizando o termo em questão: "O Senhor disse a Aarão: 'Não possuirás nada na terra deles, e não terás parte alguma entre eles. Eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos israelitas'", assim declara o Livro dos Números (18,20), e o Deuteronômio rebate: "Por isso Levi não teve parte nem herança com seus irmãos: porque o Senhor mesmo é o seu patrimônio, como lhe prometeu o Senhor, teu Deus" (Dt 10,9; cfr. Dt 18,2;Gs 13,33; Ez 44,28).
Os sacerdotes, pertencentes à tribo de Levi, não podem  ser proprietários de terras no País que Deus dava por herança ao seu povo, levando a cumprimento a promessa feita por Abraão (cf. Gen 12, 1-7). A posse da terra, elemento fundamental de estabilidade e de possibilidade de sobrevivência, era sinal de bênção, porque implicava a possibilidade de construir uma casa, de educar os filhos, cultivar os campos e viver dos frutos do solo. Bem, os Levitas, mediadores do sagrado e da bênção divina, não podem possuir, como os outros judeus, esse sinal externo de bênção e essa fonte de subsistência. Inteiramente doados ao Senhor, devem viver d'Ele somente, abandonados ao seu amor providente e à generosidade dos irmãos, sem ter herança, porque Deus é a sua parte da herança, Deus é a sua terra, que lhes faz viver em plenitude.
E agora, o orante do Salmo 119 aplica a si esta realidade: "A minha parte é o Senhor". O seu amor por Deus e pela Sua Palavra leva-o à escolha radical de ter o Senhor como único bem, e também de manter as suas palavras como dom precioso, mais precioso do que toda a herança e toda a posse de terra. O nosso versículo, de fato, tem a possibilidade de uma dupla tradução, que poderia muito bem ser feita da seguinte forma: "A minha parte, ó Senhor, eu disse, é guardar as tuas palavras". As duas traduções não se contradizem, mas se complementam: o Salmista está afirmando que a sua parte é o Senhor, mas também que guardar as palavras divinas é a sua herança, como dirá, em seguida, no v. 111: "Minha herança eterna são as vossas prescrições, porque fazem a alegria de meu coração". Esta é a felicidade do salmista: para ele, como os levitas, foi dado como parte da herança a Palavra de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, estes versículos são de grande importância também hoje para todos nós. Antes de tudo, para os sacerdotes, chamados a viver somente do Senhor e da sua Palavra, sem outras seguranças, tendo a Ele como único bem e única fonte de verdadeira vida. Nessa luz, compreende-se a livre escolha do celibato para o Reino dos céus, a ser redescoberto em sua beleza e força.
Estes versículos são importantes também para todos os fiéis, povo de Deus pertencente a Ele somente, "reino de sacerdotes" para o Senhor (cf. 1 Pe 2.9; Ap 1,6, 5.10), chamados à radicalidade do Evangelho, testemunhas da vida trazida por Cristo, novo e definitivo "Sumo Sacerdote" que se ofereceu em sacrifício para a salvação do mundo (cf.Heb 2,17; 4:14-16; 5,5-10; 9,11 ss.) O Senhor e a sua Palavra: esses são a nossa "terra", na qual viver na comunhão e na alegria.

Deixemos, portanto, que o Senhor coloque em nosso coração este amor pela Sua Palavra, e conceda-nos ter sempre no centro da nossa existência a Ele e a Sua santa vontade. Peçamos que a nossa oração e a nossa vida sejam iluminadas pela Palavra de Deus, lâmpada para os nossos passos e luz para o nosso caminho, como diz o Salmo 119 (cf. v. 105), para que o nosso andar seja seguro, na terra dos homens. E Maria, que acolheu e gerou a Palavra, seja para nós guia e conforto, estrela polar que indica o caminho para a felicidade.
Então, poderemos também alegrarmo-nos em nossas orações, como o orante do Salmo 16, dos dons inesperados do Senhor e da imerecida herança que é dada para nós:
O Senhor é a minha parte de herança e meu cálice...
Para mim, a sorte caiu em lugares deliciosos:
A minha herança é estupenda (Sl 16,5.6). 
Obrigado!
Fonte: Canção Nova

"Sim, no mundo há muito mal, há uma batalha permanente entre o bem e o mal e parece que o mal seja mais forte. Não! Mais forte é o Senhor, o nosso verdadeiro Rei e sacerdote, Cristo, porque combate com a força de Deus e, apesar de todas as coisas que nos fazem duvidar do êxito positivo da história, vence Cristo e vence o bem, vence o amor, não o ódio", afirmou confiante o Papa Bento XVI na Catequese desta quarta-feira, 16, em que falou sobre o Salmo 109 (110).
"Nestas últimas Catequeses, quis apresentar-vos alguns Salmos, preciosas orações que encontramos na Bíblia e que refletem as várias situações da vida e os vários estados de ânimo que podemos ter diante de Deus. Gostaria, portanto, de renovar a todos o convite a rezar mais com os Salmos,também habituando-se a utilizar a Liturgia das Horas, as Laudes pela manhã, as Vésperas ao final da tarde, as Completas antes de dormir. A nossa relação com Deus não poderá deixar de ser enriquecida no cotidiano caminho rumo a Ele, realizado com maior alegria e confiança", destacou.
A tradição da Igreja considera este Salmo como um dos textos messiânicos mais significativos. O rei cantado pelo Salmista é Cristo, o Messias que instaura o Reino de Deus e vence as potências do mundo, é o Verbo gerado pelo Pai antes de toda a criatura. O evento pascal de Cristo torna-se, assim, a realidade a que o Salmo convida a olhar, olhar a Cristo para compreender o sentido da verdadeira realeza, viver no serviço e no dom de si, em um caminho de obediência e amor levado "até o fim" (cf. Jo 13,1 e 19,30).
"Rezando com este Salmo, peçamos portanto ao Senhor para poder proceder também nós em seus caminhos, no seguimento de Cristo, o Rei Messias, dispostos a subir com Ele o monte da cruz para chegar com Ele à glória, e contemplá-lo sentado à direita do Pai, rei vitorioso e sacerdote misericordioso, que dé perdão e salvação a todos os homens. E também nós, tornados, por graça de Deus, 'raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa' (cfr 1 Pe 2,9), poderemos chegar com alegria às fontes da salvação (cf. Is 12,3) e proclamar a todo o mundo as maravilhas d'Aquele que nos 'chamou das trevas à sua luz maravilhosa' (cf. 1 Pe 2,9)", destacou o Pontífice.
O Salmo
No Salmo, Deus entroniza o rei na glória, fazendo-o sentar à Sua direita, sinal de grandíssima honra e absoluto privilégio. Desse modo, o rei participa do senhorio divino, do qual é mediador junto ao povo.
"Assenta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos o escabelo de teus pés" (Sl 109,1).
"Essa glorificação do rei foi assumida pelo Novo Testamento como profecia messiânica; por isso, o versículo está entre os mais usados pelos autores neotestamentários. Jesus mesmo menciona este versículo a propósito do Messias, para mostrar que o Messis é mais que Davi, é o Senhor de Davi, e Pedro o retoma no seu discurso em Pentecostes, anunciando que, na ressurreição de Cristo, realiza-se esta entronização do rei. É o Cristo, de fato, o Senhor entronizado, o Filho do homem sentado à direita de Deus, que vem sobre as nuvens do Séu, como Jesus mesmo se define durante o processo diante do Sinédrio".
Entre o rei celebrado no Salmo e Deus existe uma relação inseparável, pois os dois governam em conjunto. "O exercício do poder é um encargo que o rei recebe diretamente do Senhor, uma responsabilidade que deve viver na dependência e na obediência, tornando-se assim sinal, no interior do povo, da presença poderosa e providente de Deus", explica Bento XVI.
É também neste salmo que se encontra o conhecido versículo "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec" (v. 4). 
Melquisedec era o sacerdote rei de Salem, que tinha abençoado a Abraão e oferecido pão e vinho após a vitoriosa campanha militar conduzida pelo patriarca para salvar o sobrinho Lot das mãos dos inimigos que o haviam capturado. "Na sua figura, poder real e sacerdotal convergem e são proclamados pelo Senhor em uma declaração que promete eternidade: o rei celebrado será sacerdote para sempre, mediador da presença divina em meio ao seu povo, ponte da bênção que vem de Deus e que, na ação litúrgica, encontra-se com a resposta benedicente do homem", complementa o Bispo de Roma.

O Santo Padre indica ainda que, no Senhor Jesus ressuscitado e ascenso aos céus, onde está à direita do Pai, atua-se a profecia do Salmo e o sacerdócio de Melquisedec é levado a cumprimento, porque tornado absoluto e eterno, tornado uma realidade que não conhece anoitecer. "E a oferta do pão e do vinho, feita por Melquisedec nos tempos de Abraão, encontra o seu cumprimento no gesto eucarístico de Jesus, que, no pão e no vinho, oferece a si mesma e, vencida a morte, leva à vida todos os crentes. Sacerdote perene, santo, inocente, sem mácula, ele pode salvar perfeitamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus; ele, de fato, está sempre vivo para interceder em nosso favor".
Ao final do Salmo, está o rei triunfante que, apoiado pelo Senhor, supera os inimigos e julga as nações. "O soberano, protegido pelo Senhor, abate cada obstáculo e procede seguro rumo à vitória".
A audiência
O encontro do Santo Padre com os cerca de 20 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 7h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da "Escola de Oração", iniciada pelo Papa na Catequese de 4 de maio. A seção dedicada ao Saltério, iniciada em 7 de setembro, chegou ao fim nesta quarta-feira.
Ao final da audiência, o Papa recordou, na saudação em francês, a viagem apostólica que fará ao Benin, na África, a partir desta sexta-feira. "Depois de amanhã [sexta-feira], vou visitar o continente africano. Não se esqueçam disso na vossa oração e na vossa generosidade".
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! Saúdo todos os fiéis brasileiros, particularmente, os grupos de São Paulo e Brasília. Ao concluir este ciclo de catequeses sobre a oração no Saltério, convido-vos a rezar sempre mais com os salmos, para assim enriquecerdes a vossa relação diária com Deus. E que as suas bênçãos desçam sobre vós e vossas famílias!".
Fonte: Canção Nova

No final da Audiência Geral, nesta quarta-feira, 2 de novembro, o Papa fez um apelo aos chefes de Estado e de Governo que, a partir de hoje, quinta-feira, 3 de novembro, estarão reunidos em Cannes, na França, para participar do G-20. A finalidade deste vértice de dois dias é examinar as principais problemáticas relacionadas com a economia global.
"Faço votos de que o encontro ajude a superar as dificuldades que, em nível mundial, impedem a promoção de um desenvolvimento autenticamente humano e integral." Os chefes de Estado e de Governo se reunirão em sete sessões de trabalho, nas quais serão discutidos temas como a crise financeira internacional, crescimento econômico, geração de emprego, mudanças climáticas e governança global.
Antes de embarcar para Cannes, onde chegou nesta terça-feira, a Presidente brasileira Dilma Rousseff classificou a reunião do G20 como um “momento crucial”. “Nós vamos deixar claro na reunião do G20 que não acreditamos que a crise será efetivamente superada com guerra cambial e com a velha receita pura e simples da recessão e do desemprego”, disse Dilma durante evento de premiação das Empresas Mais Admiradas no Brasil, em São Paulo, na segunda-feira.
A solução para a crise, afirmou a presidente, não pode passar por ajustes recessivos.
Fonte: CNBB

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