Litúrgica
Para nós cristãos, nossa páscoa é Cristo, na qual se selou definitivamente a aliança entre o divino e o humano. Sua vida, morte-ressurreição e dom do Espírito são o referencial salvífico maior, central, de toda a história da salvação, como vem atestado nos escritos do segundo testamento. Pois, a partir deste mistério (mistério pascal), o pecado e a morte não têm mais vez, estão destruídos e, por isso, temos a certeza de que, em Cristo, nosso fim é também vitorioso. Nele passamos definitivamente da escravidão do pecado e da morte para a liberdade da graça superabundante e da vida plena.
Pois bem, antes de ser entregue à morte, a exemplo do que foi instituído para os israelitas por ocasião da saída do Egito, como vimos acima (cf. Ex 12,14), Jesus também nos instruiu, deixando-nos um memorial, memorial agora de sua (e nossa) páscoa, síntese de toda a sua vida e sua missão. Pegando o pão e, depois, o cálice com vinho, deu graças, partiu e deu aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo entregue. Tomai e bebei, isto é meu sangue derramado, o sangue da nova aliança. Façam isto em memória de mim. (cf. Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,14-20). Fazei isto... "Fazer", aqui, tem a ver com ação, entrar jogo do rito e, neste jogo, assimilar o sentido contido no rito (que é o mistério pascal: Jesus se entregando por nós, por amor) para transformá-lo em vida no dia a dia.
O rito deixado por Jesus foi assumido pelos seus discípulos, recebendo (com o passar dos tempos) vários nomes: fração do pão, ceia do Senhor, eucaristia, oferta, missa, divina liturgia. Nossos irmãos orientais chamam a celebração memorial da ceia pascal do Senhor de "divina liturgia". Nós falamos em "liturgia da missa".
Por que "liturgia"? Essa palavra é significativa. Por isso foi adotada pelos cristãos como título do que temos de mais sagrado, a saber, do nosso memorial pascal. Razão porque creio ser muito necessária uma achega ao sentido profundo que esta palavra encerra. A partir daí, com certeza, podemos perceber algo encantador e comprometedor, quando se fala em Liturgia.
A palavra "liturgia" é uma palavra de origem grega. E qual seria o sentido mais originário dela, na língua grega? Significa serviço público, cargo público, ou antes, prestação de serviço à comunidade. Se você, por exemplo, participa de um mutirão comunitário, o grego diria que você está participando de uma "liturgia". O apóstolo Paulo, usando o termo nesse sentido, chama de "liturgia" o trabalho (serviço) de recolher esmolas e socorrer a comunidade cristã de Jerusalém (cf. Rm 15,27; 2Cor 9,12).
Ora, se com esse pano de fundo lemos as Escrituras, algo muito interessante vem à tona. A saber, podemos aí perceber e compreender o próprio Deus como o mais sábio na arte da liturgia, isto é, na arte da prestação de serviço ao povo. Ele é a própria arte de prestar serviço ao povo, criando-o e salvando-o, Ele é o "liturgo" por excelência. A este Deus, invisível, mas percebido como intensamente presente e atuante na história do povo, a tradição judaica deu um nome: Javé, Deus, Senhor! E a tradição cristã, depois, passou a caracterizá-lo também como "mistério".
A criação, toda ela, é vista e sentida como uma esplêndida obra do mistério de Deus, um maravilhoso presente, em favor da humanidade, uma imensa manifestação da misteriosa "liturgia" do Criador. Como todo o "trabalho" que pacientemente Deus realizou no primeiro testamento, no sentido de o povo reentrar no caminho da vida, da justiça e da paz. Exemplos (como já vimos em parte): Encontrou-se pessoalmente com os patriarcas, salvou o povo de Israel da escravidão, instruiu-lhe o memorial pascal, fez aliança com ele, deu-lhe de comer, matou sua sede, constituiu líderes e suscitou profetas no meio do povo, inspirou instituições rituais (formas memoriais celebrativas da sua misteriosa e atuante presença na história), assentou o povo numa terra, e assim por diante.
E, a certa altura da História, na plenitude dos tempos, Deus nos prestou um serviço ainda maior, a saber: Presenteou-nos com seu próprio Filho que se tornou para nós o Caminho, a Verdade e a Vida, o nosso Salvador, com uma proposta que significa a garantia mais certa daquela vida plena que todos nós sonhamos.
Nota da Pastoral de Liturgia
Em nome da Pastoral de Liturgia, queremos expressar à todos os familiares e amigos do saudoso Paulo Takeo Aoki, nossos sentimentos de profundo pesar.
Que Deus console e conforte os corações de todos neste momento de grande dor, pela perda irreparável e repentina daquele que foi um servo de Deus, a serviço da nossa Igreja e comunidades.
A todos os familiares e amigos, nossas condolências e uma firme esperança na promessa da Glória Futura. Amém!
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar-vos lugar." (João 14:1-2)
Coordenação da Pastoral de Liturgia