Este Evangelho é essencialmente cristológico, pois apresenta de uma maneira sui generis a perspectiva transcendental de uma outra vida, que só é alcançável através do Cristo.
O presente Evangelho é extremamente rico, e esta riqueza é demonstrada por suas figuras de linguagem, e as mensagens que estas levaram aos contemporâneos de Jesus e nos trazem até os presentes dias.
Jesus se apresenta com uma tríplice função para a instauração e manutenção do plano salvívico, e usa do contexto contemporâneo, ou seja, do ambiente pastoril que muitos que o escutavam viviam, e provavelmente para tornar mais clara e compreensível a sua mensagem, àqueles que deram-lhe ouvidos, sejam estes, os simples, os que estavam às margens da sociedade da época, e demonstrando assim que a opção preferencial pelos pobres que hoje a igreja faz, encontra sustentáculo nEle.
Cristo se apresenta como porta, pastor e porteiro. Porta, porque sintetificou todo o seu projeto soterológico, que por meio do sacrifício pascal, o sacrifício supremo, praticado por Ele de uma vez por todas, que eleva o gênero humano à condição de filhos de Deus, e é só por Ele que poderemos alcançar a salvação, a vida eterna; Pastor, porque como ovelhas os homens o reconhecem como Pastor, ouvem a sua voz e atendem ao seu chamado a segui-lo em seu caminho, tendo Ele como guia; Porteiro, porque como sacerdote régio é livre dispensador dos sacramento os quais até nossos dias nos traz com propriedade os meios necessários para a salvação das almas, e pelo patíbulo da cruz abriu as portas dos céus até então cerradas.
A parábola tem um significado messiânico que João explica cuidadosamente. Jesus é o bom pastor, mas uma colocação melhor seria: o pastor verdadeiro, isto é, o que realiza todas as qualidades de pastor. É salutar lembrar da fórmula Eu sou (versículos 11 e 14) não indica uma simples revelação, mas um compromisso, uma promessa. A intenção do escrito joanino é revelar o mistério de Jesus, e neste enredo há também a sua contrariedade quanto aos chefes judaicos, sobretudo os religiosos.
O discurso de Jesus é contra os falsos pastores, ou seja, os fariseus, que vem em contraste a Ele que é o verdadeiro pastor que esconde as verdades dos grandes e poderosos e as revela aos pequenos.
O Evangelista João, em linhas gerais, insiste que Jesus Cristo é o único e exclusivo Pastor, Redentor e fonte de salvação, e assim rejeitando os que vieram antes dele, provavelmente uma alusão aos mestres judaicos.
A missão de Jesus é trazer a vida a todos, e vida plena, não se limitando a uma perspectiva meramente espiritualista, transcendente, pois, o Reino de Deus que Jesus anuncia já está no meio de nós (Mc 1, 14-15), mesmo que a tenhamos em sua totalidade, na plenitude dos tempos, o que coloca em cheque a sociedade contemporânea e o seu violento neoliberalismo que busca o lucro como fim último de tudo em detrimento do próprio homem e à custa deste.
Jesus é o bom pastor porque dá a vida por suas ovelhas, porque as conhece e é conhecido por elas, isto impelido por sua profunda obediência ao Pai, apesar de notar-se algumas vezes na obediência de Cristo aspecto de penitência, sacrifício, daí a conseqüente redenção, dando a impressão de obrigatoriedade, mas percebe-se também a liberdade em sua obediência, na disponibilidade, amor, abnegação de si e das coisas, para estar totalmente a serviço do pai, e assim revelá-lo ao mundo.
*Edevaldo Augusto De Souza
Aspirante da Congregação da Sagrada Família de Bérgamo