Campanha da Fraternidade 2017
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  • Cada Comunidade uma Nova Vocação

  • Novena a Nossa S. do Perpétuo Socorro

Campanha da Fraternidade 2017

Tema – Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida
Lema – Cultivar e guardar a criação (Gênesis 2,15)
OBJETIVO GERAL DA CF 2017: Cuidar da criação de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos à luz do Evangelho.
ORAÇÃO OFICIAL DA CF  2017
Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade
Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos
para que dele cuidemos com carinho e amor
Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum
Cresça em nosso imenso Brasil
o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas
e da beleza e riqueza da criação
alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!
HINO OFICIAL DA CF 2017 –
letra Pe. José Antônio de Oliveira
música: Wanderson Luis Freitas da Silva
REFRÃO – Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos Manguezais, chegue a ti o nosso canto pela vida e pela paz
1- Louvado seja, ó Senhor, pela mãe terra, que nos acolhe, nos alegra e dá o pão. Queremos ser os teus parceiros na tarefa de cultivar o bem guardar a criação.
2- Vendo a riqueza dos biomas que criaste, feliz disseste: tudo é belo, tudo é bom! E prá cuidar a tua obra nos chamaste a preservar e cultivar tão grande dom
3- Por toda a costa do país espalhas vid. São muitos rostos – da Caatinga ao Pantanal -‘ negros e índios, camponeses gente linda, lutando juntos por um mundo mais igual
4- Senhor, agora nos conduzes ao deserto e então nos falas com carinho ao coração prá nos mostrar que somos tão diversos, mas um só Deus nos faz pulsar o coração
5- Se contemplamos essa mãe com reverência, não com olhares de ganância ou ambição, o consumismo, o desperdício, a indiferença se tornam luta, compromisso e proteção
6-  Que entre nós cresça uma nova ecologia onde a pessoa, a natureza, a vida enfim possam cantar na mais perfeita sinfonia ao Criador que faz da terra o seu jardim
LEITURA RÁPIDA TEXTO BASE CF 2017
INTRODUÇÃO
Biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que historicamente foram influenciados pelos mesmos processos de formação. No Brasil temos 06 biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira.
Os biomas brasileiros sofrem interferências negativas desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, logo após Pero Vaz de Caminha ter escrito para o rei de Portugal afirmando que as “águas são muitas, infinitas. Em tal maneira graciosa (a terra) que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem”.
Os colonizadores começaram a extração do pau-brasil usando, no início, a mão de obra escrava de indígenas e mais tarde dos africanos. Hoje, após mais de 500 anos daquela carta, o que restou da beleza natural descrita por Pero Vaz de Caminha?
A Igreja Católica há algum tempo, tem sido voz profética a respeito da questão ecológica. Neste início do terceiro milênio, ter uma população de mais de 200 milhões de brasileiros, sendo mais de 160 milhões vivendo em cidades gera sérias preocupações. O impacto dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz problemas que põem em risco as riquezas dos biomas brasileiros.
À luz da fé, nos interrogaremos nas reflexões desta Campanha da Fraternidade de 2017 sobre o significado dos desafios apresentados pela situação atual dos biomas e dos povos que neles vivem. E abordaremos as principais iniciativas já existentes para a manutenção de nossa riqueza natural básica. Apontaremos propostas sobre o que podemos e devemos fazer em respeito à criação que Deus nos deu para cultivá-la e guardá-la.
CAPÍTULO I – VER – OS BIOMAS BRASILEIROS
Bioma Amazônia: Localização
A Amazônia, maior bioma do Brasil, ocupa 61% do território nacional – formado pelos estados da região norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, Rondônia e Tocantins. A Lei n. 1806 de 1953 inseriu neste bioma os estados do Mato Grosso e Maranhão, criando a Amazônia Legal.
CARACTERÍSTICAS NATURAIS BIODIVERSIDADE
O bioma Amazônia é marcado pela maior hidrográfica de água doce do mundo, a bacia amazônica. Seu principal rio, o Amazonas, lança no Oceano Atlântico cerca de 175 milhões de litros d´água a cada segundo, levando nas águas materiais orgânicos e sedimentos que geram no oceano biodiversidade marinha, colaborando para a temperatura do planeta. Também há o rio aéreo (evapotranspiração) que leva água em forma de vapor pela região Centro-Oeste, Sul, Sudeste do Brasil.
A vegetação característica do bioma Amazônia é de árvores altas. Nas planícies que acompanham o Rio Amazonas e seus afluentes, encontram-se as matas de várzeas (periodicamente inundadas) e as matas de igapó (permanentemente inundadas). Estima-se que esse bioma abrigue mais da metade de todas as espécies vivas do Brasil.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/2016) houve redução no processo de desmatamento da Amazônia, contudo, ainda continua e são mais de 700.000 quilômetros quadrados de desmatamento que continua a crescer. Nesta região vivem aproximadamente 24 milhões de pessoas, sendo que 80% delas nas áreas urbanas, sem saneamento básico e outras mazelas.
SOCIODIVERSIDADE DO BIOMA AMAZÔNIA
=       Há décadas os conflitos pelo território deste bioma geram mortes. Os conflitos e a violência contra os trabalhadores do campo se concentram de forma expressiva na Amazônia, para onde avança o capital tanto nacional como internacional. O manejo florestal passou a ser uma atividade na qual foram inúmeras as denúncias de trabalho escravo.
A expropriação privada de grandes áreas de terra continua sendo a principal causa de desmatamento. A pecuária é a principal atividade implantada nas áreas recentemente desmatadas. A construção de grandes hidrelétricas e atividades de mineração são responsáveis por boa parte dos danos ambientais e sociais nas comunidades.
CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA
O problema fundamental da Amazônia é o modelo de desenvolvimento adotado para a região. A disputa pelas riquezas faz com que a legislação flutue conforme os interesses das corporações econômicas que atuam na região.
A concentração urbana indica que a vida na floresta muitas vezes é inviabilizada para as populações originárias e tradicionais. Todas as lutas indígenas, de ribeirinhos, de quilombolas é sempre um passo a cada dia para manter seus territórios. Porém, mesmo contra a corrente do modelo, é graças a essas populações que ainda temos grande parte da floresta em pé.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
A Igreja Católica na Amazônia Legal vive e cresce no enraizamento na sabedoria tradicional e na piedade popular que durante séculos mantém viva a fé e a espiritualidade do povo da floresta. Diversos leigos, sacerdotes, religiosos (as) derramaram seu sangue em nome da dimensão sociotransformadora da fé, cuja defesa dessas populações e do meio ambiente foram seu principal esforço.
BIOMA CAATINGA: LOCALIZAÇÃO
A Caatinga, cujo nome é de origem indígena e significa “mata clara e aberta”, encontra-se envolvida pelo clima semiárido entre a estreita faixa da Mata Atlântica e o Cerrado.  É um bioma exclusivamente brasileiro, que abrange territórios de 8 estados do Nordeste e o Norte de Minas Gerais, onde vivem 27 milhões de pessoas.
CARACTERÍSTICAS NATURAIS – Biodiversidade
A Caatinga apresenta uma grande riqueza de ambientes e espécies, que não é encontrada em nenhum outro bioma. A seca, a luminosidade e o calor característicos de áreas tropicais resultam numa vegetação de savana estépica, espinhosa e decidual (quando as folhas caem em determinada época). Há também áreas serranas, brejos e outros tipos de bolsão climático mais ameno.
Esse bioma está sujeito a dois períodos secos anuais: um de longo período de estiagem, seguido de chuvas intermitentes e um de seca curta seguido de chuvas torrenciais (que podem faltar durante anos). Dos ecossistemas originais da caatinga, 80% foram alterados, em especial por causa de desmatamentos e queimadas.
Com 70% do seu subsolo formado por rochas cristalinas, o bioma Caatinga tem poucas nascentes e rios perenes, portanto, poucos aquíferos. Com o que diz respeito à fauna, o bioma Caatinga abriga 178 espécies de mamíferos, 591 tipos de aves, 177 tipos de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 classes de peixes e 221 espécies de abelhas.
OS POVOS ORIGINÁRIOS E A CULTURA – sociodiversidade
Aproximadamente 40% da população do Bioma Caatinga ainda está no meio rural, sendo considerada a região mais ruralizada do Brasil. Entretanto, a ampliação dos centros urbanos médios e pequenos na Caatinga crescem, como em todas as regiões do Brasil e padecem dos mesmos problemas de saneamento, violência e outros males dos centros urbanos brasileiros.
A BELEZA, AS FRAGILIDADES E OS DESAFIOS DO BIOMA CAATINGA
A caatinga, por ser uma vegetação geralmente baixa, favorece a apicultura. É também  a vegetação baixa o melhor alimento para a criação de animais de pequeno e médio porte como cabras, ovelhas e outros adaptados ao clima semiárido.
Este bioma tem sido agredido pelas queimadas e pelo desmatamento para plantio de culturas que raramente se adaptam adequadamente como o caso do ciclo do algodão. Outras causas do desmatamento são o gado bovino solto nas caatingas e a geração de madeira para a indústria de gesso e para as carvoarias. O desmatamento gera a desertificação provocada pela economia irresponsável e predadora.
CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA
A partir da década de 90 do século passado foi abandonada a ideia de lutar contra a seca – característica do bioma caatinga – e passou-se a difundir a ideia de aprender a conviver com o semiárido. Esta mudança de ideia promoveu a captação da água da chuva para beber, da defesa dos territórios das comunidades tradicionais e indígenas, valorização da cultura local, dos saberes dos povos caatingueiros, do aproveitamento da energia solar, dos ventos e outros potenciais da região. Também se expandiu a rede de infraestrutura social, como energia elétrica, adutoras, telefonia, internet, etc. Contudo, há ainda a debilitada infraestrutura da saúde, violência no campo e a presença das drogas nas cidades interioranas. A insegurança no campo tem provocado a migração para as áreas urbanas.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
As festas de São João, rodas de São Gonçalo, celebrações da Quaresma e Semana Santa são marcas da religiosidade popular da caatinga. Padre Ibiapina, um cearense, aproveitou-se desta religiosidade popular para implantar várias resoluções dos problemas do povo. Ainda no século XIX ele concretizou a captação da água das chuvas nas cisternas nas casas da Caridade, onde se acolhiam enfermos, mulheres grávidas e viajantes.
Seguiram os passos do religioso cearense o padre Cícero e muitos de seus discípulos que souberam acolher o povo liberto da escravidão e remanescentes indígenas, fundando comunidades como Caldeirão no Crato (CE) e Canudos (BA).
Atualmente se observa que a vida de fé das comunidades cristãs neste bioma é marcada pela piedade popular, que se caracteriza pela devoção e pelas romarias nos expressivos santuários da região, como Bom Jesus da Lapa (BA), Santuário Frei Damião (PB), Santuário de São Francisco, em Canindé (CE), etc. Não podemos deixar de citar que experiências da ação evangelizadora como a Campanha da Fraternidade e CEBs, surgiram na região Nordeste.
BIOMA Cerrado: LOCALIZAÇÃO
O Cerrado tem duas estações climáticas bem definidas: chuvosa e seca. O solo, de composição arenosa, é considerado o bioma brasileiro mais antigo. Sua vegetação é encontrada na região Centro-Oeste e também na região oeste de Minas Gerais e das regiões sul do Maranhão e do Piauí. Nesta área vivem 22 milhões de pessoas.
CARACTERÍSTICAS DO CERRADO
É no Cerrado que está a nascente das três maiores bacias da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em elevado potencial aquífero e grande biodiversidade. Esse bioma abriga mais de 6,5 mil espécies de plantas já catalogadas.
No Cerrado predominam formações da savana e clima tropical quente subúmido, com uma estação seca e uma chuvosa e temperatura média anual entre 22°C e 27°C.
Além dos planaltos, com extensas chapadas, existem nessas regiões florestas de galeria, conhecidas como mata ciliar e mata ribeirinha, ao longo do curso d’água e com folhagem persistente durante todo o ano; e a vereda, em vales encharcados e que é composta de agrupamentos da palmeira buriti sobre uma camada de gramíneas (estas são constituídas por plantas de diversas espécies, como gramas e bambus).
CERRADO – Caixa d´água do Brasil
Embora o Cerrado não produza água, ele acumula as águas das chuvas em seu subsolo poroso, principalmente as vindas dos “rios aéreos” amazônicos. Assim, os biomas Amazônico e Cerrado se unem perfeitamente para a produção e distribuição da água para o Brasil.
BIODIVERSIDADE
O conjunto de todos os seres vivos do bioma Cerrado representa 5% da fauna mundial. A alta diversidade de ambientes se reflete em uma elevada riqueza de espécies vegetais (23.000) e animais (320.000), sendo que 90.000 são de insetos. Entretanto há que se alertar que das 427 espécies listadas em risco de extinção, 132 estão no Cerrado.
OS POVOS ORIGINÁRIOS E A CULTURA – sociodiversidade
Os indígenas, primeiros habitantes do Cerrado, junto com os camponeses, constituem os grupos importantes no Cerrado. Denomina-se camponês aquele agricultor que possui autoidentidade reconhecida como povos e comunidades tradicionais. São eles os guardiões do patrimônio ecológico e cultural deste bioma.
BELEZA, FRAGILIDADES E DESAFIOS DO BIOMA CERRADO
É o bioma Cerrado que abastece a bacia do Rio São Francisco. Um bioma tão antigo mostra-se frágil em sua capacidade de resistência e regeneração. A mão humana pode extinguir rapidamente um dos biomas mais antigos da face da terra.
REALIDADE POLÍTICA E OS DESAFIOS DO CERRADO
Com o pretexto da defesa e preservação da Amazônia, avança sobre o Cerrado a ocupação desordenada em vista da exploração econômica, com a destruição da biodiversidade e ameaça à vida e à cultura dos povos originários e comunidades tradicionais. Amparados por decisões governamentais de caráter duvidoso, o agronegócio avança sobre o bioma cerrado, principalmente para exploração do solo e aproveitamento desordenado das águas no subsolo. O agronegócio produz amplo desmatamento, sequestram a terra dos povos e comunidades tradicionais, modificam a química do solo, além de alterar o regime das águas, trazendo grande prejuízo a todo o território brasileiro. O que é preocupante é que o Cerrado, uma vez destruído, não se reconstitui.
O cerrado é o ecossistema brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
A Igreja Católica está empenhada na aprovação da Proposta de Emenda Constitucional –PEC 115/150 -, que inclui o Cerrado e a Caatinga como Patrimônios Nacionais. Também produz material popular para ativar a consciência da preservação ambiental junto às comunidades.
BIOMA MATA ATLÂNTICA
A Mata Atlântica abrangia  uma área equivalente a 1.315.460 quilômetros quadrados e estendia-se originalmente por 17 estados. Hoje restam 8,5% de remanescentes florestais. Atualmente, somados todos os fragmentos de floresta acima de 3 hectares, temos 12,5% da sua área original.
Desde o descobrimento do Brasil a Mata Atlântica vem sendo destruída. O pau-brasil, característico dela, foi o principal alvo da extração e exploração daqueles que colonizavam o Brasil.
Os relatos antigos falam de uma floresta aparentemente intocada, apesar de habitada por vários povos indígenas. Hoje a concentração urbana neste bioma abriga a maioria das capitais litorâneas e regiões metropolitanas. Nestas regiões o saneamento básico ainda é um sonho para muitos.
CARACTERÍSTICAS NATURIAS – biodiversidade
Seu principal tipo de vegetação é a floresta normalmente composta por árvores altas e relacionada a um clima quente e úmido. A Mata Atlântica já foi um dos mais ricos e variados conjuntos florestais pluviais da América do Sul, mas atualmente é reconhecida como o bioma brasileiro mais descaracterizado. Isso porque os primeiros episódios de colonização no Brasil e os ciclos de desenvolvimento do país levaram o homem a ocupar e destruir parte desse espaço.
Vivem na Mata Atlântica mais de 220 mil espécies de plantas, sendo 8 mil endêmicas (que existe somente em uma determinada área ou região geográfica); 270 espécies conhecidas de mamíferos; 992 espécies de aves; 197 répteis; 372 anfíbios; 350 peixes.
A pressão sobre a Mata Atlântica é histórica e ao longo do tempo muda de aspecto e aumenta em intensidade. Começa com a extração do pau-brasil, passa por vários ciclos econômicos de cana de açucar, café, ouro, fumo. A devastação total da araucária ocorreu a partir do século XX com a intensa exploração da agricultura e agropecuária, assim como a expansão urbana desordenada.
OS POVOS ORIGINÁRIOS E A CULTURA – sociodiversidade
Originalmente, os povos Tamoio, Temininó, Tupiniquim, Caetés, Tabajara, Potiguar, Pataxó e Guarani ocupavam esse imenso território litorâneo. Foram eles os primeiros a sofrerem com a chegada dos colonizadores. Os brancos além de espelhar doenças, usaram os índios como escravos e soldados nas guerras.
Hoje, milhares de comunidades tradicionais pesqueiras dependem dos manguezais para sua reprodução física e cultural. Para as comunidades pesqueiras o manguezal não é apenas um lugar que se retira o sustento, mas é espécie de lugar sagrado. Há um rito de profundo respeito às águas, a lama, ao cheiro, a fauna e flora existentes nos manguezais de modo que se institui uma linguagem própria e uma cosmovisão específica da criação.
Entre as interferências no processo cultural do bioma Mata Atlântica estão as empresas nacionais e transnacionais. Elas investem na monocultura do eucalipto, o que provoca, em vários estados brasileiros, o “deserto verde”.
Outra situação preocupante  é que grande parte do que resta da Mata Atlântica está nas mãos de proprietários particulares, que precisam ser conscientizados sobre a necessidade da preservação do bioma Mata Atlântica.
A BELEZA, AS FRAGILIDADES
E OS DESAFIOS DO BIOMA MATA ATLÂNTICA
Das 633 espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil, 383 ocorrem na Mata Atlântica. Junto a esta preocupação estão as grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre e outras que padecem de desmoronamentos e a falta de saneamento básico. A concentração populacional na área urbana leva à ocupação em áreas de risco, de mananciais e encostas de morros. Os serviços de tratamento de esgoto, resíduos sólidos ainda são muito precários o que aumenta a degradação do ambiente. O maior problema deste e de outros biomas são as consequências de um modelo econômico que para gerar riqueza tem que concentrar pessoas e destruir o ambiente no qual se insere.
CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA
A ganância capitalista, conivência do poder público e falta de consciência ecológica tem provocado a degradação do meio ambiente e a expulsão de diversas comunidades. A ausência do saneamento básico é outra grave ameaça. Grande parte dos esgotos das residências de áreas urbanas e rurais é despejada diretamente nos rios, no mar e nos mangues.
A falta do comprometimento político em relação ao uso e ao cuidado da água tem gerado consequências sentidas pela população nestes últimos anos com a baixa do espelho d´água em muitos reservatórios (represas) e consequente racionamento do líquido da vida.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
Com a chegada dos primeiros missionários jesuítas, Padre Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e outros, deu-se início ao processo de aldeamento, a construção de conventos e colégios. Também outras ordens religiosas e congregações deram a sua contribuição: os franciscanos, beneditinos, carmelitas e outros.
Não podemos deixar de lembrar também das pastorais sociais, com atuação nos diversos seguimentos da sociedade, defendendo a vida, nas várias instâncias em que ela é ameaçada pelo modelo econômico em desenvolvimento.
BIOMA PANTANAL: LOCALIZAÇÃO
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. O Pantanal é um bioma praticamente exclusivo do Brasil, pois apenas uma pequena faixa dele adentra outros países (o Paraguai e a Bolívia).
CARACTERÍSTICAS NATURAIS – biodiversidade
O BIOMA Pantanal é caracterizado por inundações de longa duração (devido ao solo pouco permeável) que ocorrem anualmente na planície, e provocam alterações no ambiente, na vida silvestre e no cotidiano das populações locais. A vegetação predominante é a savana. A cobertura vegetal original de áreas que circundam o Pantanal foi em grande parte substituída por lavouras e pastagens, num processo que já repercute na Planície do Pantanal.
Esse bioma é muito influenciado pelos regimes dos rios presentes nesses lugares, pois, durante o período chuvoso (outubro a abril), a água do pantanal alaga grande parte da planície da região. Quando o período chuvoso acaba, os rios diminuem o seu volume d’água e retornam para os seus leitos. Por essa razão, a vegetação e os animais precisam adequar-se a essa movimentação das águas. Todos esses fatores tornam a vegetação do pantanal muito diversificada, havendo exemplares higrófilos (adaptados à umidade), plantas típicas do Cerrado e da Amazônia e, nas áreas mais secas, espécies xerófilas. A fauna é constituída por várias espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis etc.
OS POVOS ORIGINÁRIOS E A CULTURA –  sociodiversidade
Quando chegaram os primeiros colonizadores, 1,5 milhões de indígenas habitavam a região. Hoje, esta população é muito pequena e grande parte dos indígenas remanescentes vive em cidades da região ou trabalham nas fazendas. Outra pequena parte reside numa área indígena do Pantanal. Hoje, a população no pantanal brasileiro é de aproximadamente 1.100.000 pessoas.
A BELEZA, AS FRAGILIDADES E OS DESAFIOS DO BIOMA PANTANAL
Durante a cheia, os rios, lagos e riachos ficam interligados por canais e lacunas ou desaparecem no mar de águas permitindo o deslocamento de espécies. Esse processo é um dos principais responsáveis pela constante renovação da vida e pelo fornecimento de nutrientes. Na época da seca formam-se então lagoas e corixos isolados, os quais retêm grandes quantidades de peixes e plantas aquáticas. Vale lembrar que o Pantanal é uma das áreas mais importantes para aves aquáticas e espécies migratórias, como abrigo, fonte de alimentação e reprodução.
A expansão desordenada e rápida da agropecuária, com a utilização de pesadas cargas de agroquímicos, a exploração de diamantes e de ouro nos planaltos, com a utilização intensiva de mercúrio, são responsáveis por profundas transformações regionais. A mineração ativa na região podem afetar os lençóis freáticos que abastecem os rios, córregos e poços, contaminando a água.
O tráfico, a caça e a venda de peles, couro ou artefatos provenientes de animais silvestres são práticas que, embora ilegais, ainda ocorrem. Várias espécies de animais já estiveram ameaçadas de extinção. As situações mais conhecidas nacional e internacionalmente são o jacaré do pantanal e a onça.
CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA
A falta de visão e políticas integradas para o Pantanal, que considerem as necessidades essenciais das populações locais resulta em ações isoladas e com pouca repercussão em sua totalidade. Além disso, as principais demandas sociais vão sendo postas em segundo plano.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
Para a Igreja Católica, o bioma Pantanal não representa somente um santuário ecológico onde se preservam espécies, mas sim um lugar onde o ser humano faz uma profunda experiência de Deus, da natureza e do outro.  Atuam na região com expressivo empenho o Conselho Indigenista Missionário, Cáritas, Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, Comunidades Eclesiais de Base, etc. Estas ações da Igreja na região do Pantanal dedicam especial atenção aos povos originários, ribeirinhos e pantaneiros.
BIOMA PAMPA: LOCALIZAÇÃO
O bioma pampa está presente, no Brasil, somente no Rio Grande do Sul, ocupando 63% do território do Estado. Ele constitui os pampas sul-americanos, que se estendem pelo Uruguai e pela Argentina e, internacionalmente, são classificados de Estepe. O pampa é marcado por clima chuvoso, sem período seco regular e com frentes polares e temperaturas negativas no inverno.
Esse bioma é bastante influenciado pelo clima subtropical e pela formação do relevo, que é constituído principalmente por planícies. Em virtude do clima frio e seco, a vegetação não consegue desenvolver-se, sendo constituída principalmente por gramíneas, como capim-barba-de-bode, capim-gordura, capim-mimoso etc.
Esse tipo de paisagem apresenta dois tipos bem definidos:
1-Campos Limpos – Ocorrem quando a vegetação não apresenta arbustos, ganhando uma paisagem mais homogênea, sem diferenças muito grandes entre uma parte e outra.
2-Campos sujos – Ocorrem quando há uma maior presença desses arbustos, que se misturam à paisagem.
CARACTERÍSTICAS NATURAIS – biodiversidade
A vegetação predominante do pampa é constituída de ervas e arbustos, recobrindo um relevo nivelado levemente ondulado. Formações florestais não são comuns nesse bioma e, quando ocorrem, são do tipo floresta ombrófila densa (árvores altas) e floresta estacional decidual (com árvores que perdem as folhas no período de seca).
As estimativas indicam valores em torno de três mil espécies de plantas. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves. Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos. O vento é uma das características marcantes do cenário dos pampas.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do bioma Pampa. Estimativas de perda de habitat dão conta de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do Bioma Pampa.
OS POVOS ORIGINÁRIOS E A CULTURA – sociodiversidade
Os primeiros europeus a ocupar o Rio Grande do Sul foram os jesuítas espanhóis vindos do Paraguai que fugindo dos bandeirantes paulistas se estabeleceram na parte noroeste do estado trazendo indígenas e gado bovino. Esse gado recém-chegado era criado solto. Não havia nenhum rigor ou cuidado especial já que muito bem adaptado o gado crescia livre alimentando-se de vastas pastagens.
No século XVIII os negros chegam ao Rio Grande do Sul, participando das lavouras de trigo, nas charqueadas e nas estâncias de criação, assim como a ocupação da região da campanha pelos portugueses devido ao tratado de Madri.
A partir do século XIX iniciou-se o cercamento dos campos, provocando importantes mudanças no modo de vida do gaúcho. Surgem as fazendas, o que muda as relações familiares. Também o caráter principal da subsistência cede lugar à fazenda com função comercial.
A mulher tem assumido seu papel na conservação do Pampa. Em épocas passadas elas eram responsáveis pelas lidas domésticas, alimentação da família e cuidado com os filhos. As mulheres dos peões além de trabalharem em suas casas também trabalhavam na casa dos patrões e muitas ainda na agricultura para autoconsumo.
Atualmente, muitas mulheres rurais nos Pampas são responsáveis e mantenedoras da economia doméstica, organizando-se em cooperativas, lidando com a pecuária de leite, artesanato, etc. Também muitas delas são conhecedoras das ervas medicinais e dos processos de curas naturais auxiliando na preservação dos recursos naturais.
A ovinocultura, tanto pelo uso da carne como da lã, ainda é a mais forte tradição da região Pampa, mas sua principal atividade continua sendo a criação do gado bovino. O chimarrão, o churrasco, a música de fronteira, são riquezas que permanecem mesmo em tempos da industria cultural.
A BELEZA, AS FRAGILIDADES E OS DESAFIOS DO BIOMA PAMPA
Esse bioma é bastante influenciado pelo clima subtropical e pela formação do relevo, que é constituído principalmente por planícies. Em virtude do clima frio e seco, a vegetação não consegue desenvolver-se, sendo constituída principalmente por gramíneas, como capim-barba-de-bode, capim-gordura, capim-mimoso etc. São exemplos de animais que vivem nesse bioma o veado, garça, lontras, capivaras e outros.
Entre os desafios e as fragilidades do bioma Pampa estão as iniciativas governamentais que contrariam a vocação natural da região para a pecuária e o turismo. Estas iniciativas incluem grandes plantios de pinus e eucaliptos que causam impactos ambientais, tais como: alteração dos recursos hídricos; interferência no regime dos ventos e de evaporação.
Outras preocupações que ameaçam o bioma Pampa são a ampliação da área de soja, trigo e arroz e a cultura da mamona para a elaboração de biocombustível. Há ainda a antiga e constante ameaça da mineração e queima de carvão mineral, o que aumenta a incidência e frequência de doenças pulmonares.
CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA
É no Pampa que existe a grande maioria dos latifúndios do Rio Grande do Sul que, além da criação de gado, apostam na monocultura de eucalipto, acácia e pinus. Estes monocultivos são denominados pelos Movimentos Sociais de “Deserto Verde”, exatamente porque são extremamente nocivos ao meio ambiente, prejudicando a fauna e a flora originais do Pampa.
É importante destacar que, apesar de ser região latifundiária, há muitas famílias de pequenos agricultores, indígenas, quilombolas.
CONTRIBUIÇÃO ECLESIAL
A Igreja está presente na região desde a primeira evangelização, mas com características muito próprias. Foi ali que os missionários jesuítas fundaram “As Missões dos Sete Povos”. Nos últimos anos, seja pela presença das Pastorais Sociais, das Semanas Sociais, das Campanhas da Fraternidade, das CEBs, muito se valoriza a agricultura familiar, os territórios das comunidades tradicionais e os remanescentes indígenas.
CAPÍTULO II – JULGAR
NA SAGRADA ESCRITURA
A Sagrada Escritura  não se preocupa diretamente com os biomas. Contudo, oferece elementos que iluminam a temática a partir do projeto de Deus nela apresentado. Tal projeto inicia-se pela criação e organização do mundo. E conhece uma ruptura por causa do pecado. Seu verdadeiro significado é revelado em Cristo Jesus. A reflexão que segue está dividida nesses três momentos buscando apresentar que o mundo e as criaturas fazem parte desse projeto de Deus.
HARMONIA ORIGINAL: o mundo criado
A FÉ JUDAICO-CRISTÃ APONTA UM CAMINHO OBJETIVO: O MUNDO FOI CRIADO POR DEUS
A criação é apresentada em dois relatos. O primeiro apresenta a criação sendo realizada em sete dias (Gn 1,1-2,4a). Cada um dos seis primeiros dias tem em seu programa um elemento necessário para a continuidade da obra no outro dia (Gn 1,3-24). O sétimo dia tem como programa o descanso divino.  O segundo relato destaca Deus providenciando a chuva e para a fecundação da terra e só depois cria o homem e o coloca como guardião de toda obra criada.
A criação é obra prima das mãos de Deus (Salmo 8).  A acusação que a ordem de Deus “enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28) favoreceria a exploração selvagem da natureza se baseia em uma má compreensão do texto.  O Papa Francisco na encíclica Laudato SI explica que “cultivar” quer dizer proteger, cuidar, preservar, velar. Isso implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. A criação pertence a Deus  (Sl 24; Lv 25,23). O homem, que é imagem e semelhança de Deus, recebeu a vocação de cuidar e guardar com atenção dos seres que dela fazem parte.
A ALIANÇA ROMPIDA E O PECADO
As primeiras páginas do livro do Gênesis relatam também a triste realidade do pecado do homem (Gn 3,6). O ser humano provoca uma ruptura nas relações. A primeira relação a ser ferida é com Deus. As relações interpessoais também são afetadas (Gn 3,12-13). E a ruptura dos relacionamentos inclui o mundo criado (Gn 19; Ex 8-11; 2 Sm 24). O relato do pecado afirma como consequência da queda a hostilidade da terra ao homem (Gn 3,19).
Aos profetas caberá a missão de denunciar o pecado confrontado com o plano de Deus e também a insistência para o valor do arrependimento (Am 5,4;. Os 14; Jr 3,12; Is 55,7; 57,15; Ez 18,23). Os profetas têm consciência plena de que as relações serão restauradas (Is 2,4; Is 60,18-19): “o lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança pequena toca os dois(…) O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa (Is 11,6-8).
TEMPOS MESSIÂNICOS: restauração de tudo em Cristo
Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos (Gl 4,4-5). A iniciativa é sempre de Deus, porque o homem em si é incapaz de se reconciliar com seu Criador por suas próprias forças(2 Cor 5,18; Rm 5,10; Mt 6,9-13; Jo 20,17).
Jesus, nas suas mensagens catequéticas utiliza de elementos da criação (Jo 4,10-14; Mt 5,45; Jo 15;; Mc 4,1-20). Assim, por meio da contemplação da natureza o ser humano é convidado por Jesus a compreender que sua vida está nas mãos de Deus (Mt 6,28-29). Somente buscando o Reino de Deus em primeiro lugar o homem pode libertar-se do incansável desejo de possuir (Mt 6,33-34).
A redenção da criação é apresentada em Apocalipse 21-22 através da imagem da Jerusalém celeste. Antes disso, o livro do Apocalipse apresenta o desequilíbrio gerado pelo pecado do homem em toda a criação: rios poluídos (Ap 8,8); queimadas (Ap 8,7); terremotos (Ap 16,18); doenças (Ap 9,4-5). Quando tudo parece perdido, Deus age e coloca fim no sofrimento, fazendo surgir um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1). Jesus reconstrói toda a criação e faz novas todas as coisas (Ap 21,5)
LAUDATO SI: ponto culminante de um caminho
A reflexão seguinte quer contribuir para conhecer o caminho de aprofundamento da consciência eclesial sobre a ecologia e para situar nele a encíclica Laudato Si. O desafio da convivência com os biomas, embora não seja tratado especificamente, se ilumina de modo particular com a reflexão a respeito da interligação de todas as criaturas.
BEATO PAULO VI: a tomada de consciência do desafio ecológico
O Beato Paulo VI iniciou a reflexão do magistério pontifício sobre ecologia na carta apostólica Octogesima Adveniens, em comemoração dos 80 anos da encíclica Rerum Novarum do papa Leão XIII. Dizia Paulo VI que: “Não só mjá o ambiente material se torna uma ameaça permanente, poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto; é mesmo o quadro humano que o homem não consegue dominar, criando assim, para o dia de amanhã, um ambiente global, que poderá tornar-se para a humanidade insuportável” (AO 21).
SÃO JOÃO PAULO II: ecologia e ética
A mensagem de São João Paulo II para o vigésimo terceiro Dia Mundial da Paz foi centrada no tema “Paz com Deus criador, paz com toda a Criação” (01/01/1990). Disse o Santo Papa polonês: “O gradual esgotamento da camada do ozônio e o consequente efeito estufa que ele provoca já atingiram dimensões críticas, por causa da crescente difusão das indústrias, das grandes concentrações urbanas e do consumo de energia. Lixo industrial, gases produzidos pelo uso de combustíveis fósseis, desflorestamento imoderado” (…) “tudo isto, como se sabe é nocivo para a atmosfera e para o ambiente”.
Em sua encíclica Centesimus Annus (01/05/1991) São João Paulo II considera que o homem, tomado mais pelo desejo do ter e do prazer, do que pelo ser e crescer consome de maneira desordenada os recursos da terra e da sua própria vida. Segundo ele, a atenção à preservação dos habitat naturais das diversas espécies animais ameaçadas de extinção deve ir de mãos dadas com o respeito pela estrutura natural e moral, da qual o homem foi dotado. Para São João Paulo II a crise ambiental não é só científica e tecnológica, mas fundamentalmente moral.
BENTO XVI: a ecologia humana
Por diversas vezes o Papa Bento XVI foi apresentado como “o primeiro papa verde”. Em sua mensagem para o sexagésimo Dia Mundial da Paz (01/01/2007) ele retomou e consolidou a relação inseparável que existe entre ecologia da natureza, ecologia humana e ecologia social.
Na encíclica Caritas in Veritate (29/06/2009) Bento XVI recordou a urgência de uma solidariedade que leve a uma redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso a eles. Na audiência Geral de 26/08/2009 afirmou: “é indispensável converter o atual modelo de desenvolvimento global para uma maior e compartilhada assunção de responsabilidade em relação à criação: isso é exigido não só pelas emergências ambientais, mas também pelo escândalo da fome e da miséria”.
FRANCISCO: uma ecologia integral
No magistério do Papa Francisco aparece uma clara visão global, em continuidade com seus antecessores. Em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (24/11/2013) o pontífice argentino afirmou: “Nós, os seres humanos, não somos meramente beneficiários, mas guardiões das outras criaturas. Pela nossa realidade corpórea, Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia que a desertificação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação”.
O Papa Francisco diz que o tempo para encontrar soluções globais está acabando. Por isso percebeu o sumo pontífice que já era chegado o momento de produzir um documento oficial sobre a ecologia. E assim nasce a Laudato SI aos 24 de maio de 2015. Nesta, que é a primeira encíclica ecológica, o Papa indica como um dos eixos fundamentais da reflexão ecológica a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta. Tanto a natureza como os pobres são usados como formas para o lucro fácil: exploração da mão de obra barata e extração desenfreada dos recursos naturais, tudo em nome do lucro fácil disfarçado de progresso humano.
CONCLUSÃO
A reflexão sobre os biomas e os povos originários recebe uma rica iluminação da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja. É preciso que a constatação das riquezas e dos desafios ligados ao tema da Campanha da Fraternidade seja levada à ação a partir de uma reflexão serena e profunda dos ensinamentos da tradição cristã.
A partir da fé cristã, é grande a contribuição que pode ser dada às questões da ecologia integral e, em particular, à convivência harmônica com os nossos biomas. Como afirma o Papa Francisco: “as convicções da fé oferecem aos cristãos – e, em parte, também a outros crentes – motivações importantes para cuidar da natureza e dos irmãos e irmãs mais frágeis”. (Laudato Si n.64).
CAPÍTULO III- AGIR
O agir da Campanha da Fraternidade de 2017 está em sintonia com a Doutrina Social da Igreja, principalmente com a encíclica Laudato SI e com a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016. Elas indicam a necessidade da conversão pessoal e social, dos cristãos e não cristãos, para cultivar e cuidar da criação. A encíclica Laudato Si propõe a ecologia integral como condição para a vida do planeta.
A Campanha da Fraternidade 2017 também está em sintonia com a celebração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Sob as bênçãos de Maria, rogamos a Deus para nos encorajar a fim de que possamos fazer ecoar nosso grito à sociedade brasileira e ao mundo que os biomas pedem socorro.
O AGIR NO BIOMA AMAZÔNIA
Precisa ser superada a ideia da Amazônia como terra a ser explorada. É preciso aprender com os povos originários e comunidades tradicionais a convivência com o meio ambiente. É preciso igualmente fortalecer as cooperativas, baseadas no agroextrativismo que gera renda para muitas famílias. Também é necessário fortalecer as políticas públicas por saneamento básico e transporte público de qualidade.
O AGIR NO BIOMA CAATINGA
A Caatinga é um bioma extremamente frágil. Nas últimas décadas 40 mil quilômetros quadrados deste bioma se transformaram em deserto por interferência do homem. Padre Cícero, em meados do século passado, deixou vários preceitos ecológicos que continuam atuais:
“Não derrube o mato e nem toque fogo no roçado. Não cace, deixe os bichos viverem. Não crie boi ou bodes soltos. Não plante em serra cima, faça uma cisterna para guardar água da chuva. Plante a cada dia pelo menos um pé de árvore”.
Além dos preceitos do Padre Cícero é preciso ainda retomar as discussões sobre a realidade urbana, principalmente em relação ao esgotamento sanitário. Ampliar o uso de cisternas para captação das águas da chuva e desenvolver a captação da energia solar e uso da energia eólica. Reforçar a luta pela demarcação dos territórios indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Trazer para as escolas o estudo sobre um correto entendimento do bioma caatinga para que as pessoas ali residentes aprendam a conviver e superar os desafios da seca.
O AGIR NO BIOMA CERRADO
Promover o intercâmbio entre as comunidades locais. Fortalecer a agricultura familiar e a preservação e recuperação das frutas e das ervas medicinais. Reforçar a campanha promovida por diversas entidades cujo lema é: Cerrado, berço das águas: sem Cerrado, sem água, sem vida. Exigir controle mais rígido sobre o licenciamento de novos projetos de irrigação.
O AGIR NO BIOMA MATA ATLÂNTICA
Exigir do poder público a recuperação das áreas degradadas do bioma, como as matas ciliares e nascentes. Exigir que as políticas de saneamento básico sejam implantadas em toda a área urbanizada e rural do bioma Mata Atlântica. Cuidar das nascentes e dos rios. Apoiar as ações em defesa do bioma frente ao avanço das mineradoras que degradam e retiram riquezas. Denunciar os projetos econômicos imobiliários em áreas de Preservação Permanente (APP). Apoiar a produção agroecológica camponesa com base na agricultura familiar, como alternativa ao latifúndio e o agronegócio. Incentivar o consumo de produtos agroecológicos e sustentáveis da Economia Solidária.
O AGIR NO BIOMA PANTANAL
Dar visibilidade as populações pantaneiras com suas culturas e costumes. Apoiar os povos indígenas para garantir que suas terras ancestrais lhes sejam demarcadas, afastando os fazendeiros gananciosos da região. Promover campanhas de conscientização quanto ao descarte adequado dos resíduos sólidos e esgotos sanitários, para preservar os rios, lagos e igarapés. Promover a integração das lideranças indígenas e das populações tradicionais na luta pelas causas comuns. Assegurar a presença efetiva da Igreja na assistência espiritual às comunidades católicas indígenas.
O AGIR NO BIOMA PAMPA
É notório que o bioma Pampa está sendo ameaçado e tem seus ecossistemas modificados, Por esta razão, propomos:
Incentivar ações que promovam o direito à vida e a cultura dos povos tradicionais que habitam o bioma. Conscientizar da necessidade de defender a biodiversidade animal e vegetal do bioma. Propor novos métodos de produção das áreas ocupadas pelo agronegócio através da recomposição da vegetação original e de cultivo agroecológico. Motivar a recuperação das fontes de água potável, rios, lagoas e banhados através de políticas de despoluição, replantio das matas ciliares e redefinição de seu uso. Exigir políticas públicas para o controle de exploração e comercialização da água, com incentivo ao controle social.
CONCLUSÃO GERAL
As indicações do agir não são de caráter geral. É importante que cada comunidade, a partir do bioma em que vive, e em relação com os povos originários desse bioma, faça o discernimento  de quais ações são possíveis e, entre elas quais são as mais importantes e de impacto mais positivo e duradouro. Para este discernimento é importante ouvir a mensagem do Papa Francisco proferida no dia 01/09/2016 no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Francisco convida a renovar o diálogo sobre os sofrimentos que afligem os pobres e a devastação do meio ambiente. Para o Papa Francisco, é por nossa causa que milhares  de espécies já não dão glória a Deus com sua existência. É devido à atividade humana que o planeta continua a aquecer. Este aquecimento provoca mudanças climáticas que geram a dolorosa crise dos migrantes forçados. Os pobres do mundo, embora sejam os menos responsáveis pelas mudanças climáticas, são os mais vulneráveis e já sofrem os seus efeitos.
A Campanha da Fraternidade 2017, abordando a realidade dos biomas brasileiros e as pessoas que neles moram, deseja despertar as comunidades, famílias e pessoas de boa vontade para o cuidado e cultivo da casa comum. Cuidar da obra saída das mãos de Deus deveria ser um compromisso de todo cristão.
A criação é obra amorosa de Deus confiada a seus filhos e filhas. Nossa Senhora, Mãe de Deus e dos homens acompanhará as comunidades e famílias no caminho do cuidado e cultivo da casa comum no tempo quaresmal.

Abaixo sites para pesquisas e outras informações sobre biomas brasileiros e artigos relacionados ao tema.
Fontes:
http://www.cnbb.org.br/images/2016_03/edital_cfe.pdfhttp://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/biomas-brasileiros.htm
CF 2017: Uma nova concepção de vida fraterna

 

 

http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2009/10/biomas-brasileiros
http://biomasnacionais.blogspot.com.br/p/principais-problemas-ambientais.html
http://www.comciencia.br/reportagens/2005/08/10.shtml

1- BIOMAS BRASILEIROS
O território brasileiro, com cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, possui uma grande variedade de características naturais (solo, relevo, vegetação e fauna), que interagem entre si formando uma composição natural única. Entre as principais características naturais que mais apresentam variação, estão os biomas. Um bioma é um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna similares, definida pelas condições físicas predominantes nas regiões. Esses aspectos climáticos, geográficos e litológicos (das rochas), por exemplo, fazem com que um bioma seja dotado de uma diversidade biológica singular, própria.
Resumindo, biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que historicamente foram influenciados pelos mesmos processos de formação.
OS BIOMAS BRASILEIROS, SUAS CARACTERÍSTICAS E PROBLEMAS QUE ENFRENTAM
De acordo com o IBGE, o país possui seis grandes biomas, que, juntos, possuem uma das maiores biodiversidades do planeta. Os biomas existentes no Brasil são (da maior extensão para a menor): a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pampa e o Pantanal.
A seguir, conheça cada bioma do Brasil:
1- BIOMA AMAZÔNIA
Extensão aproximada: 4.196.943 quilômetros quadrados
A Amazônia é a maior reserva de biodiversidade do mundo e o maior bioma do Brasil – ocupa quase metade (49,29%) do território nacional. Esse bioma cobre totalmente cinco Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima), quase totalmente Rondônia (98,8%) e parcialmente Mato Grosso (54%), Maranhão (34%) e Tocantins (9%). Ele é dominado pelo clima quente e úmido (com temperatura média de 25 °C) e por florestas. Tem chuvas torrenciais bem distribuídas durante o ano e rios com fluxo intenso. É este bioma muito influenciado pelo clima equatorial, que se caracteriza pela baixa amplitude térmica e grande umidade, proveniente da evapotranspiração dos rios e das árvores.
O bioma Amazônia é marcado pela bacia amazônica, que escoa 20% do volume de água doce do mundo. No território brasileiro, encontram-se 60% da bacia, que ocupa 40% da América do Sul e 5% da superfície da Terra, com uma área de aproximadamente 6,5 milhões de quilômetros quadrados.
A vegetação característica é de vegetação florestal muito rica e densa e apresenta espécies de diferentes tamanhos – algumas podem alcançar até 50 metros de altura – com folhas largas e grandes, que não caem no outono. A fauna também é muito diversificada, composta por insetos, que estão presentes em todos os estratos da floresta, uma infinidade de espécies de aves, macacos, jabutis, antas, pacas, onças e outros. Nas planícies que acompanham o Rio Amazonas e seus afluentes, encontram-se as matas de várzeas (periodicamente inundadas) e as matas de igapó (permanentemente inundadas). Estima-se que esse bioma abrigue mais da metade de todas as espécies vivas do Brasil.
PROBLEMAS DO BIOMA AMAZÔNIA
Um dos principais problemas do bioma Amazônia é o desmatamento ilegal e predatório. Madereiras instalam-se na região para cortar e vender troncos de árvores nobres. Há também fazendeiros que provocam queimadas na floresta para ampliação de áreas de cultivo (principalmente de soja).
Estes dois problemas preocupam cientistas e ambientalistas do mundo, pois em pouco tempo, podem provocar um desequilíbrio no ecossistema da região, colocando em risco a floresta.
Outro problema é a biopirataria na floresta amazônica. Cientistas estrangeiros entram na floresta, sem autorização de autoridades brasileiras, para obter amostras de plantas ou espécies animais. Levam estas para seus países, pesquisam e desenvolvem substâncias, registrando patente e depois lucrando com isso. O grande problema é que o Brasil teria que pagar, futuramente, para utilizar substâncias cujas matérias-primas são originárias do nosso território.
2- BIOMA CERRADO:
Extensão aproximada: 2.036.448 quilômetros quadrados
É o segundo maior bioma da América do Sul e cobre 22% do território brasileiro. Ele ocupa totalmente o Distrito Federal e boa parte de Goiás (97%), de Tocantins (91%), do Maranhão (65%), do Mato Grosso do Sul (61%) e de Minas Gerais (57%), além de cobrir áreas menores de outros seis Estados.
É um bioma característico do clima tropical continental, que, em razão da ocorrência de duas estações bem definidas – uma úmida (verão) e outra seca (inverno) –, possui uma vegetação com árvores e arbustos de pequeno porte, troncos retorcidos, casca grossa e, geralmente, caducifólia (as folhas caem no outono).
No Cerrado predominam formações da savana e clima tropical quente subúmido, com uma estação seca e uma chuvosa e temperatura média anual entre 22 °C e 27 °C. Além dos planaltos, com extensas chapadas, existem nessas regiões florestas de galeria, conhecidas como mata ciliar e mata ribeirinha, ao longo do curso d’água e com folhagem persistente durante todo o ano; e a vereda, em vales encharcados e que é composta de agrupamentos da palmeira buriti sobre uma camada de gramíneas (estas são constituídas por plantas de diversas espécies, como gramas e bambus).
É no Cerrado que está a nascente das três maiores bacias da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em elevado potencial aquífero e grande biodiversidade. Esse bioma abriga mais de 6,5 mil espécies de plantas já catalogadas.
A fauna da região é bastante rica, constituída por capivaras, lobos-guarás, tamanduás, antas, seriemas etc.
PROBLEMAS DO BIOMA CERRADO
O cerrado é o ecossistema brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento.
A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradasdestruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.
3- BIOMA MATA ATLÂNTICA:
Extensão aproximada: 1.110.182 quilômetros quadrados
A Mata Atlântica é um complexo ambiental que engloba cadeias de montanhas, vales, planaltos e planícies de toda a faixa continental atlântica leste brasileira, além de avançar sobre o Planalto Meridional até o Rio Grande do Sul. Ela ocupa totalmente o Espírito Santo, o Rio de Janeiro e Santa Catarina, 98% do Paraná e áreas de mais 11 Unidades da Federação.
O exemplar de Floresta Tropical do Brasil praticamente já desapareceu, pois, como estava localizada na faixa litorânea do país, grande parte de sua vegetação original foi devastada pela intensa ocupação do litoral. Por conta disso, atualmente é reconhecida como o bioma brasileiro mais descaracterizado. Isso porque os primeiros episódios de colonização no Brasil e os ciclos de desenvolvimento do país levaram o homem a ocupar e destruir parte desse espaço.
Seu principal tipo de vegetação é a floresta ombrófila densa, normalmente composta por árvores altas e relacionada a um clima quente e úmido. A Mata Atlântica já foi um dos mais ricos e variados conjuntos florestais pluviais da América do Sul, mas
Originalmente, a vegetação desse bioma encontrava-se localizada em uma extensa área do litoral brasileiro, que se estendia do Piauí ao Rio Grande do Sul, e era constituída por uma vegetação florestal densa, com praticamente as mesmas características da Floresta Amazônica: com diversos tamanhos, latifoliada (folhas largas e grandes) e perene (folhas que não caem). A fauna dessa região já foi praticamente extinta e era constituída por micos-leões, lontra, onça-pintada, tatu-canastra, arara-azul e outros.
PROBLEMAS DO BIOMA MATA ATLÂNTICA
A destruição da Mata Atlântica começou no início da colonização européia, com a extração do pau-brasil (Caesalpinia echinata) e continua até os dias atuais, principalmente pela pressão urbana.
A Mata Atlântica originalmente ocupava 16% do território brasileiro, distribuída por 17 Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, e Piauí. Atualmente este ecossistema está reduzido a menos de 7% de sua extensão original, dispostos de forma fragmentada ao longo da costa brasileira, no interior das regiões Sul e Sudeste, além de trechos nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e no interior dos estados nordestinos.Do que se perdeu, pouco se sabe, milhares, ou talvez milhões, de espécies não puderam ser conhecidas.
Das espécies vegetais, muitas correm risco de extinção por terem seu ecossistema reduzido, por serem retiradas da mata para comercialização ilegal ou por serem extraídas de forma irracional como ocorreu com o pau-brasil e atualmente ocorre com o palmito juçara (Euterpe edulis), entre muitas outras espécies.
Para a fauna, observa-se um número elevado de espécies ameaçadas de extinção, sendo a fragmentação deste ecossistema, uma das principais causas. A fragmentação do habitat de algumas espécies, principalmente de mamíferos de médio e grande porte, faz com que as populações remanescentes, em geral, estejam subdivididas e representadas por um número consideravelmente pequeno de indivíduos.
Apesar de toda a destruição que o ecossistema vem sofrendo, aproximadamente 100 milhões de brasileiros dependem desta floresta para a produção de água, manutenção do equilíbrio climático e controle da erosão e enchentes.
4- BIOMA CAATINGA
Extensão aproximada: 844.453 quilômetros quadrados
A Caatinga, cujo nome é de origem indígena e significa “mata clara e aberta”, é exclusivamente brasileira e ocupa cerca de 11% do país. É o principal bioma da Região Nordeste, ocupando totalmente o Ceará e parte do Rio Grande do Norte (95%), da Paraíba (92%), de Pernambuco (83%), do Piauí (63%), da Bahia (54%), de Sergipe (49%), do Alagoas (48%) e do Maranhão (1%). A caatinga também cobre 2% de Minas Gerais.
A Caatinga, portanto, estende-se por todo o sertão brasileiro, ocupando cerca de 11% do território nacional. Trata-se da região mais seca do país, localizando-se na zona de clima tropical semiárido.
Esse bioma apresenta uma grande riqueza de ambientes e espécies, que não é encontrada em nenhum outro bioma. A seca, a luminosidade e o calor característicos de áreas tropicais resultam numa vegetação de savana estépica, espinhosa e decidual (quando as folhas caem em determinada época). Há também áreas serranas, brejos e outros tipos de bolsão climático mais ameno.
Também o bioma da Caatinga está sujeito a dois períodos secos anuais: um de longo período de estiagem, seguido de chuvas intermitentes e um de seca curta seguido de chuvas torrenciais (que podem faltar durante anos). Dos ecossistemas originais da caatinga, 80% foram alterados, em especial por causa de desmatamentos e queimadas.
A vegetação dessa região é composta, principalmente, por plantas xerófilas (acostumadas com a aridez, como as cactáceas) e caducifólias (que perdem a folha durante o período mais seco), além de algumas árvores com raízes bem grandes que conseguem captar a água do lençol freático em grandes profundidades e que, por isso, não perdem as suas folhas, como o juazeiro. A fauna desse bioma é composta por uma grande variedade de répteis, sapo cururu, asa-branca, cutia, gambá, preá, veado-catingueiro, tatupeba etc.
PROBLEMAS DO BIOMA CAATINGA
Na Caatinga, vegetação nativa e solos agricultáveis estão em franco desaparecimento. A pecuária e o reflorestamento, sobretudo com Algaroba (Prosopis sp.) e sua exploração como lenha e carvão vegetal, tem sido a única alternativa econômica do sertanejo. Em seu conjunto, a região semi-árida está inserida num contexto onde a ação antrófica tem contribuído para o avanço sobre remanescentes florestais que, em determinados casos, é substituído ou seletivamente explorado, causando uma degeneração da composição das matas nativas da região. Por outro lado, no vale do São Francisco, onde existe elevado potencial para irrigação, já desponta uma agricultura moderna, com elevada produtividade, e boa parte da produção direcionada para o mercado externo. Devido aos elevados índices de aridez que caracteriza a maior parte da região, o uso da terra está diretamente ligado à disponibilidade de água nos solos. As terras agrícolas estão localizadas em áreas de baixadas, tabuleiros e terraços aluviais de solos profundos, com boa retenção de umidade. Nestes solos alcançam-se elevadas produtividades, o que compensa as perdas nos anos de maior déficit hídrico. Assim, a agricultura irrigada, que já ocupa uma área superior a 640 mil hectares, é uma atividade econômica de grande significado para a região nordestina. Incentivou o surgimento de diversas agroindústrias, propiciando a verticalização da produção. Todavia, a má drenagem tem provocado um sério problema de salinização.
De resto, tende a se tornar mais grave o problema da desertificação. Estudo recente do Núcleo Desert da Universidade Federal do Piauí constatou que em 71 microregiões o empobrecimento generalizado dos recursos da terra já atinge mais de 52 mil hectares.
5- BIOMA PAMPA
Extensão aproximada: 176.496 quilômetros quadrados
O bioma pampa está presente somente no Rio Grande do Sul, ocupando 63% do território do Estado. Ele constitui os pampas sul-americanos, que se estendem pelo Uruguai e pela Argentina e, internacionalmente, são classificados de Estepe. O pampa é marcado por clima chuvoso, sem período seco regular e com frentes polares e temperaturas negativas no inverno.
Localizado no extremo sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, o bioma Pampa é bastante influenciado pelo clima subtropical e pela formação do relevo, que é constituído principalmente por planícies. Em virtude do clima frio e seco, a vegetação não consegue desenvolver-se, sendo constituída principalmente por gramíneas, como capim-barba-de-bode, capim-gordura, capim-mimoso etc.
A vegetação predominante do pampa é constituída de ervas e arbustos, recobrindo um relevo nivelado levemente ondulado. Formações florestais não são comuns nesse bioma e, quando ocorrem, são do tipo floresta ombrófila densa (árvores altas) e floresta estacional decidual (com árvores que perdem as folhas no período de seca).
São exemplos de animais que vivem nesse bioma o veado, garça, lontras, capivaras e outros.
PROBLEMAS DO BIOMA PAMPA
Nos Pampas, a agropecuária tem bastante força, o que vem provocando problemas ambientais, como a erosão do solo. Cerca de 50% deste, é ocupado por áreas rurais: valor relativamente pequeno, se comparado aos outros biomas. Entretanto, os Pampas é o que possui menor porcentagem territorial destinada à conservação e um dos menos estudados.
6- BIOMA PANTANAL
Extensão aproximada: 150.355 quilômetros quadrados
O bioma Pantanal cobre 25% de Mato Grosso do Sul e 7% de Mato Grosso e seus limites coincidem com os da Planície do Pantanal, mais conhecida como Pantanal mato-grossense. O Pantanal é um bioma praticamente exclusivo do Brasil, pois apenas uma pequena faixa dele adentra outros países (o Paraguai e a Bolívia).
Trata-se este bioma da maior planície inundável do país e é muito influenciado pelos regimes dos rios presentes nesses lugares, pois, durante o período chuvoso (outubro a abril), a água do pantanal alaga grande parte da planície da região. Quando o período chuvoso acaba, os rios diminuem o seu volume d’água e retornam para os seus leitos. Por essa razão, a vegetação e os animais precisam adequar-se a essa movimentação das águas. Todos esses fatores tornam a vegetação do pantanal muito diversificada, havendo exemplares higrófilos (adaptados à umidade), plantas típicas do Cerrado e da Amazônia e, nas áreas mais secas, espécies xerófilas. A vegetação predominante é a savana. A fauna é constituída por várias espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis etc.
A cobertura vegetal original de áreas que circundam o Pantanal foi em grande parte substituída por lavouras e pastagens, num processo que já repercute na Planície do Pantanal.
PROBLEMAS DO BIOMA PANTANAL:
No Pantanal, os principais impactos ambientais podem ser enumerados a partir dos seguintes fatores:
a- Pecuária extensiva – Emulação com a fauna nativa.
b- Pesca predatória e caça ao jacaré – redução das reservas pesqueiras e possibilidade de extinção de algumas espécies de animais.
c- Garimpo de ouro e pedras preciosas – Processo de erosão, contaminação dos rios.
d- Turismo e migração desordenada e predatória – Fogos na região, causando a morte das aves.
e- Aproveitamento dos cerrados – A má administração das lavouras causa grandes erosões no solo e a utilização de biocidas e fertilizantes contamina os rios.
f- Plantio de cana-de-açúcar – Provoca dano à preservação ambiental, trazendo grandes perigos para a contaminação de rios.
“Pontuações históricas da” DEGRADAÇÃO DE BIOMAS BRASILEIROS
autor: Waldir Mantovani: http://www.comciencia.br/reportagens/2005/08/10.shtml
A exploração de recursos naturais e a ocupação do território brasileiro têm uma longa história de alterações relevantes e da degradação de áreas naturais. É resultado, entre outros fatores, da ausência de uma cultura de ocupação de seus espaços que respeitasse as características dos seus diversos biomas, da apropriação dos bens da natureza por grupos restritos de pessoas ou instituições, sendo seus benefícios distribuídos de forma desigual entre os componentes da sociedade, e da desconsideração, por parte dos projetos institucionais e de diversos empreendimentos, das alterações do meio ambiente em seus custos, em geral restando à sociedade os prejuízos causados.
Essas alterações em nossos biomas são mais evidentes a partir das atividades agrícolas das numerosas tribos indígenas que ocupavam principalmente a faixa litorânea de nosso país, e que dominavam a técnica da agricultura de corte e queima, e é ampliada na colonização pelos portugueses, a partir do século XVI, inicialmente com os ciclos do pau-brasil, uma espécie de árvore da floresta pluvial tropical atlântica, e da cana-de-açúcar em extensas áreas das zonas litorâneas, mormente no Nordeste e, após, com a busca de minérios preciosos e posterior estabelecimento de áreas de garimpos em várias regiões do território brasileiro.
Atividades de agricultura e de garimpo exigiam mão de obra não disponível entre os colonizadores, o que estimulou entradas de tropas organizadas ao interior de nosso continente até a região amazônica, na busca de mão de obra indígena e de plantas aromáticas, medicinais e alimentícias.
A mão de obra indígena foi posteriormente substituída pela mão de obra escrava trazida da África, ainda no século XVI, aumentando as populações nas vilas e cidades, o que exigiu uma maior produção de alimentos e incentivou a importação de animais, como cavalos e gado bovino, que ocuparam áreas interiores de pastos naturais, no cerrado e nos campos sulinos, principalmente no Nordeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil. As moendas de cana-de-açúcar ainda exigiam grande quantidade de lenha, o que era obtido das florestas.
O século XIX é marcado pela exploração de recursos naturais, como a borracha na Amazônia, pela exploração de madeira de elevado valor econômico, nas diversas florestas brasileiras, e pelas implantações das culturas do café, em áreas dos domínios das florestas pluvial atlântica e estacional semidecídua, principalmente no Sudeste e Sul do Brasil, do fumo, em áreas da floresta com araucária, no Sul, e da caatinga, no Nordeste, e do algodão, em áreas da caatinga, no Nordeste. Agrava a conservação de áreas desses biomas o caráter itinerante que essas culturas tiveram, sempre ocupando novas áreas, com solos não desgastados.
Um importante fluxo imigratório deu-se nas épocas das primeira e segunda guerras mundiais e acentuou-se durante a expansão da cafeicultura, principalmente no final do século XIX, fazendo com que muitos europeus se estabelecessem nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, aumentando as populações humanas nessas regiões e a demanda por moradia, alimentação e diversos outros recursos da natureza.
No século XX houve novamente uma expansão das culturas de cana-de-açúcar e de algodão, principalmente no Sul e Sudeste, e um estímulo às culturas de citros, no sudeste, de chá, no sul e sudeste, e da soja, desde o Sul, pelo Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, sob o impulso da industrialização nacional ocorrida no terço final deste século, com grande impacto em áreas dos domínios da floresta com araucária, estacional semidecídua e do cerrado.
O crescimento das atividades pecuárias no século XX levou à ocupação de extensas áreas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do país, em detrimento de áreas naturais dos campos sulinos, do cerrado e das florestas com araucária, estacional semidecídua e pluvial amazônica. Esta expansão foi realizada com o estabelecimento de pastos baseados em espécies de gramíneas exóticas, em geral africanas, muitas das quais se transformaram em competidoras com as espécies nativas de diversos biomas, por um processo que se denomina de invasão biológica.
Na década de 70 as áreas do domínio do cerrado foram designadas prioritárias para a expansão de uma nova fronteira agrícola, a ser ocupada por diversas atividades agropecuárias, sem que houvesse um planejamento à sua conservação.
Nosso país é extremamente rico em diversos minerais, em grande parte ainda exportados em sua forma bruta, cuja extração representa das mais importantes fontes de problemas ambientais, localmente levando a modificações no ambiente e, em escala maior, exigindo soluções ao seu escoamento.
Por sua história de ocupação, as grandes cidades brasileiras estão preponderantemente situadas no litoral brasileiro ou nos planaltos sob clima temperado quente e úmido, influenciando diretamente a conservação de áreas das florestas pluviais atlântica, com araucária e sobre as planícies litorâneas.
A maioria da população brasileira está concentrada em áreas urbanas que raramente foram adequadamente planejadas, de forma que a maior parte dos municípios não possui sistemas de coleta e de tratamento de esgotos e do lixo, interferindo na qualidade das águas interiores e continentais. Um fator de agravamento do crescimento não controlado das grandes cidades no sudeste deveu-se aos vários fluxos de migração, principalmente do nordeste, que acompanharam o crescimento urbano e industrial desta região.
As águas interiores e continentais brasileiras são diretamente afetadas pelo conjunto de atividades anteriormente citadas, seja pelo lançamento de dejetos e produtos químicos oriundos das aglomerações urbanas, de origem doméstica ou industrial, ou das atividades agropecuárias, incluindo a erosão de solos e a contaminação de águas por produtos químicos, além da super exploração de alguns recursos naturais, como várias espécies de peixes, e a alteração da velocidade e das características físicas e químicas das águas, nas barragens para fins da geração de energia e abastecimento.
A industrialização e a opção pelo transporte individual, na maioria das cidades, também geraram, desde o final do século XX, problemas de poluição atmosférica, com consequências importantes à saúde humana.
A expansão da malha de rodovias e da rede ferroviária permitiu o acesso a diversas regiões do território brasileiro ainda conservadas, e estimulou a produção agropecuária e o crescimento populacional, preponderando a migração.
Principalmente a partir da década de 70, mas emergindo de forma acentuada na de 80, os problemas ambientais começaram a ganhar um grande espaço nas discussões feitas em nossa sociedade, sempre relacionadas à conservação biológica e dos recursos naturais e à qualidade de vida humana, amparadas por uma legislação bastante evoluída.
Para todos os biomas brasileiros, um dos fatores mais relevantes à degradação é o crescimento populacional, em geral associado à ausência de planejamento para o uso de espaços e recursos disponíveis de forma sustentada, como é genericamente denominado o uso que não leve ao esgotamento dos recursos naturais. Uma das consequências do aumento populacional é a ampliação de áreas para a atividade agropecuária, com devastação de áreas da vegetação natural, que pode ter ampliado seu efeito à degradação com o uso de tecnologia avançada, além dos aumentos de áreas urbanas e da demanda por serviços e recursos naturais. Os efeitos do crescimento populacional podem ser multiplicados por processos de migração, impactando ainda mais certas regiões.
Há diversos biomas mantidos em Unidades de Conservação restritivas com áreas insuficientes para representar toda a heterogeneidade que contêm. As Unidades de Conservação com uso indireto, gerenciadas pela União ou pelos estados, somam 19.625.376ha, enquanto as de uso direto, menos restritivas, 140.881.814ha, e as reservas de recursos 51.045ha. A contribuição dos municípios é muito pequena.
Entre os biomas terrestres há problemas comuns que podem levar à degradação, ressaltando-se a sua substituição por culturas monoespecíficas ou pecuária, com a diminuição da diversidade biológica e, como consequência, a do uso potencial de recursos contidos nas espécies. Em geral essas atividades acarretam aumento de processos erosivos, agravados pela existência de solos arenosos, topografia acidentada e precipitações elevadas, além de promoverem a destruição de hábitats. Na substituição dos biomas por outros sistemas, agrícolas ou urbanos, são perdidas, também, importantes funções de equilíbrio que os biomas exercem no ambiente, seja na proteção do solo, na manutenção dos ciclos hidrológicos, no tamponamento dos efeitos dos fatores físicos do ambiente sobre a superfície da terra, seja a radiação solar, a temperatura, a precipitação e a ação de ventos. Também podem ser perdidos valores estéticos, quando paisagens naturais, em geral heterogêneas, são substituídas por paisagens antropizadas, geralmente homogêneas.
Os recursos que representam ou que estão contidos em muitas espécies de plantas e de animais têm características restritivas à exploração, que podem ser generalizados para os diversos biomas, terrestres, aquáticos ou de transição. Quanto mais rico e diverso for o bioma, mais difícil a exploração do recurso, dado o pequeno número de organismos apresentados por uma população. Isto é relevado pelo fato de todos os biomas apresentados possuirem variações regionais e locais de estrutura e de composição florística e faunística, que aumentam a diversidade biológica que contêm.
Em relação às espécies de animais, o maior problema relacionado com a extração, caça ou pesca, bem como com a extração seletiva de plantas, é a diminuição excessiva de organismos nas populações, o que pode acarretar a extinção local ou, dependendo da extensão e da intensidade de exploração, em grande escala, com consequências nas cadeias ou teias tróficas das quais participam as espécies exploradas.
Principalmente devido à perda de hábitat, mas também por causa da caça para diversos fins, dentre as espécies de animais em perigo de extinção ressaltam-se aqueles do topo da cadeia alimentar, como a onça-parda ou sussuarana, a onça pintada, os gatos-do-mato, como a jaguatirica e os gatos-maracajás, os cachorros-do-mato, o lobo-guará, os gaviões e os falcões, que necessitam de territórios muito amplos para caça e reprodução, os jacarés, a lontra, as doninhas, as ariranhas, as sucuris, as surucucus, os grandes mamíferos, como a anta, os cervos, os veados, os tamanduás, os tatus, as preguiças, as baleias, botos, golfinhos e peixes-boi, os primatas: micos, sagüis, guaribas, bugios, uacaris, sauás e diversos macacos, os peixes consumidos por sua carne, como o pirarucu e o tambaqui e diversas outras espécies sob sobrepesca, assim como as tartarugas, o jaboti, os cágados e o tracajá, e lagartos, algumas aves são caçadas para consumo, como o inambu, o jaó, o macuco, o mutum, o jacu, os patos, as pombas, as rolinhas, enquanto outras são ornamentais, como os periquitos, os papagaios, as arararas, os galos-da-serra e as saíras, ou canoras, como os sabiás, o canário-da-terra, o bicudo, o pitassilgo, o pássaro-preto, o curió e as coleirinhas, entre outras.
Afora a grande quantidade de espécies conhecidas que são extintas localmente, ressaltam-se as extinções de espécies pouco conhecidas ou ainda não descritas pela ciência, como as de algas, fungos, briófitas, pteridófitas, insetos, escorpiões, aracnídeos, miriápodes, anfíbios e outros grupos de plantas e de animais, notadamente de pequeno porte.
A fragmentação de hábitats naturais acarreta a diminuição do tamanho de várias populações, de plantas e de animais, seja pela diminuição das áreas ou pela competição pelos recursos remanescentes, tornando-as muitas vezes inviáveis, impedindo a circulação de animais de diversas espécies, com o estabelecimento de áreas de agricultura, áreas urbanas, estradas ou outros obstáculos, intransponíveis, além do estabelecimento de efeitos de borda, como mudanças microclimáticas e da luminosidade, que facilitam a invasão biológica e o perigo de incêndios e de outros fatores de perturbação.
Os tipos de usos mais comuns em relação às plantas referem-se à produção de alimentos na forma de frutos, sementes ou palmitos, de condimentos, aromatizantes e corantes, de uso têxtil, produtoras de cortiça, taníferas, com elevados teores nas cascas ou nos troncos, com exsudatos no tronco, como resinas, gomas, bálsamo, produtoras de óleos e gorduras, medicinais, ornamentais para jardinagem, empregadas no artesanato, plantas apícolas e aparentadas de plantas cultivadas, como no caso do cajú, da mandioca, do abacaxi, da ata, da pinha, do cará, do caqui, da goiaba, do maracujá, do amendoim e do guaraná, entre outras.
A introdução de espécies de plantas e de animais no território brasileiro tem elevado o problema das invasões biológicas passíveis de ocorrerem nos diversos biomas, o que tem acarretado a diminuição da diversidade biológica, quando são competidores mais fortes, ou representam pragas ou agentes de doenças. Alterações em áreas naturais têm levado à transformação de espécies sob equilíbrio em pragas ou patógenos, agentes de doenças diversas.
Para todos os biomas, um dos problemas mais relevantes refere-se ao aumento da população humana, principalmente concentrada em grandes núcleos urbanos, devido a geração de lixo, a impermeabilização do solo, a necessidade de aumento da produção agrícola, a geração de esgoto, não tratado, o aumento na demanda de água para fins domésticos, industriais, de serviços, de lazer e para a produção de alimentos, seja pescado ou para uso na agricultura.
A maioria dos municípios brasileiros não possui rede coletora de esgoto (Norte, 92%, Centro-Oeste, 87%, Nordeste 74%, Sul, 61% e Sudeste, 9%), o que é agravado pelo fato de a grande maioria dos municípios, independente da região, não promover o tratamento deste esgoto (98% no Norte, 96% no Nordeste e no Centro-Oeste, 93% no Sul e 85% no Sudeste). Também o lixo não recebe tratamento adequado, sendo a grande maioria depositada em vazadouros a céu aberto, sendo importante fator de degradação de biomas, notadamente aquáticos.
Os biomas localizados ao longo do litoral, terrestres, de interfaces ou aquáticos, estão mais sujeitos à degradação proveniente de grandes aglomerados humanos, já que a maioria da população brasileira está concentrada nessa região.

Cf 2017 – Uma nova concepção de fraternidade   por Nicolau João Bakker, svd
Fonte: http://portalkairos.org/cf-2017-uma-nova-concepcao-de-vida-fraterna/#ixzz4EwiYPFFL
Introdução:
Surpreendeu-me o tema da CF de 2017: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida“. O que a fraternidade tem a ver com os biomas brasileiros? Tradicionalmente nossos biomas são seis: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pantanal, e os Pampas do Sul. Ultimamente se acrescenta a eles a Zona Costeira e Marinha. Não é um pouco artificial ligar estes biomas ao conceito de fraternidade?
A fim de encontrar uma resposta mergulhei na minha infância. Lembrei-me do lugar onde nasci: quase dois metros abaixo do nível do mar, num dos famosos “pôlderes” holandeses, uma grande e rica extensão de terra cercada pelos não menos famosos “diques” da Holanda. Tudo fruto de uma luta mais do que secular contra a temível bravura do mar. Chamavam-nos de “frísios do Oeste”, isto em oposição aos frísios “de verdade” que moravam do outro lado de um grande braço do mar, a 25 km. de distância. Lá se falava uma outra língua que nem sequer entendia. Aliás, mesmo do nosso lado, em cada aldeia, de 3 em 3 km, o linguajar do povo – e também o modo de brincar, caçoar, torcer e opinar – era um pouco diferente. Em seu conjunto, nós, frísios do Oeste, constituíamos claramente uma “tribo” bem diferente das demais tribos holandesas. Depois de adulto me dei conta que até na religião éramos diferentes. Tínhamos, sem dúvida, um modo bem próprio de encarar as nossas obrigações religiosas.
Quando minha família, na década de 1950, emigrou para o Brasil, estabelecendo-se numa pequena cooperativa agrícola na área metropolitana de Campinas (Holambra), eu, com 21 anos de idade, enfrentei um mundo totalmente novo. Juntamente com meu pai e meus três irmãos, era preciso aprender a tirar o sustento para uma família de 11, não mais a partir de um único alqueire do bioma pôlder, mas agora a partir de um bioma inteiramente diferente. Os muitos cupinzeiros esparramados pelo velho pasto à nossa frente não deixavam dúvida. Estávamos diante de um “latifúndio” de 14 alqueires de cerrado paulista. Trabalhando na roça com paulistas, mineiros e cearenses, goianos, baianos e paranaenses, fui logo percebendo que cada um/a trazia do seu bioma de origem – evidentemente com variedades regionais – um mundo próprio, não apenas no sotaque, nos costumes e nas tradições, mas também em todo um jeito particular de encarar a vida.
De fato, mais do que nosso estado ou região de origem, é o bioma que define o viver, conviver e sobreviver do ser humano. A modernidade, com sua fortíssima tendência de criar o “homo globalis” – fruto de uma mídia homogeneizadora e um novo estilo de vida, urbano, escolarizado, e industrializado – tende a aniquilar o efeito bioma, mas não há como. Cada bioma é o resultado de forças cósmicas que mudam apenas a longuíssimo prazo e que ultrapassam em muito a capacidade humana de, de alguma forma, dominá-los. Muito antes de o ser humano destruir o bioma, o bioma irá destruir o ser humano. Em muitos sentidos o bioma “gera” o ser humano, dando-lhe sua característica própria, não apenas nas feições do corpo, mas também nas da alma. A não ser que algum imperialismo religioso a tenha modificado, em cada canto do planeta encontraremos uma população originária dirigindo ao mundo do além uma oração particular e muito própria.
O objetivo deste artigo é demonstrar que, das ciências da vida, surge uma nova concepção de “vida fraterna”. Se queremos realmente “defender a Vida”, como pede a Campanha da Fraternidade, vamos ter que “educar o nosso olhar” – como dizia Teilhard de Chardin (†1955) – e perceber que, de fato, somos irmãos e irmãs não apenas dos nossos semelhantes, os seres humanos, mas também, como já intuía São Francisco de Assis (†1226), de todos os demais seres vivos do planeta. Faremos isto, em primeiro lugar, observando “a Vida como ela é”. Em seguida veremos que também o bioma, como a própria “Vida”, é sempre uma “teia partilhada”. E, finalmente, tiraremos algumas conclusões pastorais “em defesa da Vida”.
I –  “A Vida como ela é”
A fraternidade, antes de ser um fenômeno social, é um fenômeno biológico. Trata-se de um exagero colocar as coisas desta forma? Parece, mas não é. A “Vida”, apesar das ocasionais aparências contrárias, é, toda ela fraternal ou sororal. Podemos perceber isso melhor quando colocamos debaixo da lupa uma célula viva, de qualquer ser vivente que seja, observando o seu “metabolismo” celular.1 Antes de mais nada devemos então distinguir entre células sem núcleo central e células com núcleo central. Os especialistas falam em células “procariontes” e células “eucariontes”. Durante os primeiros dois bilhões de anos, a Vida no planeta Terra, iniciada há cerca de 3,7 bilhões de anos, foi comandada basicamente pelas bactérias, seres vivos unicelulares sem núcleo central. Seu DNA é mil vezes mais simples que o nosso e não passa de um único cordão de uns 4000 genes que flutua livremente no líquido – o “citoplasma” – celular. Mas não subestime as bactérias. Elas, sem sexo algum, podem multiplicar-se a cada vinte minutos e partilhar entre si até 15% do seu código genético diariamente! Esse “pool gênico” deu a elas a capacidade de adaptar-se às mais diversas e duras condições de um planeta em permanente transformação. As bactérias acabaram “inventando” os principais mecanismos de sustentação da “Vida” que ainda hoje marcam o dia a dia do metabolismo celular: a fermentação, a fotossíntese, a fixação do nitrogênio, a respiração aeróbia, a pigmentação, a locomoção, etc.
Vejamos isto colocando debaixo da lupa a “nossa” célula, a eucarionte, isto é, a que possui um núcleo central e que apresenta uma complexidade muito maior do que a das bactérias. Devemos à grande microbióloga, Lynn Margulis, a comprovação científica de que não são apenas as mutações genéticas e as transferências genéticas diretas – como a das bactérias – que fazem evoluir a vida, mas que existe também a poderosa força da “simbiogênese”.2 É aí que percebemos com maior clareza que a “Vida”, em qualquer nível, depende inteiramente da tal “fraternidade biológica”. Todas as células eucariontes são fruto de uma integração, uma colaboração íntima e permanente – uma “simbiose” – entre forças vivas antes separadas. Tomemos como exemplo a simples alga do mar, a antecessora das plantas. Colocada debaixo da lupa, os especialistas percebem que seu núcleo genético é uma fusão de dois tipos diferentes de bactérias: a “arqueofermentadora” – capaz de decompor cadeias de carbono, ou acúcares, transformando-os em fonte de energia – e uma outra já capaz de locomoção, a “nadadora”. Mais adiante uma terceira bactéria veio enriquecer o conjunto da célula: a “respiradora”, especializada em respirar oxigênio. Estes novos seres que, há aproximadamente dois bilhões de anos, resultaram desta múltipla fusão, ainda unicelulares, vieram receber depois a inestimável colaboração de uma quarta bactéria, a “fotossintetizadora” (a cianobactéria verde-azulada). Mas os resquícios desta encontramos apenas no “reino” das plantas, e não no reino dos fungos ou no reino dos animais.
Ajustemos, porém, ainda mais a lente da nossa lupa. Dentro do núcleo central de cada célula eucarionte podemos observar claramente um pequeno “mininúcleo” que, em conjunto com o DNA principal do núcleo central, dá origem aos aproximadamente 500.000 “centros de produção”, ou “ribossomos”, espalhados pelo fluido celular, cada um produzindo, além das proteínas e enzimas necessárias, também as quatro “organelas” principais que sustentam a Vida da célula: 1) as “usinas solares”, ou cloroplastos, que – apenas nas células vegetais – absorvem do ar o dióxido de carbono e a energia do sol, e da terra a água e os minerais, para, com ajuda de enzimas, transformar tudo em açúcares alimentares, devolvendo ao ar o oxigênio (= fotossíntese); 2) as “casas de força”, ou mitocôndrias, que, também com ajuda de enzimas, realizam a respiração celular, usando a energia proveniente do oxigênio para decompor as indispensáveis moléculas de açúcar, transformando-as em “transportadores de energia”, as famosas moléculas de “adenosina trifosfato” (ATP), que fornecem energia a todas as células, e ao corpo, quando e aonde for necessário; 3) são produzidas ainda as “bolsas de armazenamento” que servem de reserva e acondicionamento dos produtos celulares para serem usados quando necessário; e, 4) as “usinas de reciclagem” onde se faz o reuso de elementos não usados ou danificados. Que bela lição de “Vida”, onde tudo colabora com tudo e nada é desperdiçado!
Foram esses novos seres com núcleo central e alta complexidade, chamados “protistas”, que evoluíram, passando de unicelulares a multicelulares, até transformar-se, por caminhos diferentes, nas atuais plantas, fungos e animais. Ao reino destes últimos – devemos humildemente reconhecer – pertencemos todos nós. As bactérias, enquanto isso, como também os protistas, mantêm seus reinos próprios. Sabe-se lá o que ainda vão inventar para garantir a sobrevivência da “Vida” no planeta! Estão quase onipresentes, tanto dentro quanto fora do nosso corpo. Um minúsculo centímetro cúbico de terra fértil contém bilhões delas! Continuam da maior importância. Um exemplo? Repare na atmosfera terrestre. Nela há 21% de oxigênio. Se o nível subisse para 25%, tudo na terra entraria em combustão. Se baixasse para 15%, nada conseguiria respirar. São principalmente as bactérias que mantêm o nível adequado.
Se queremos entender a “Vida” como ela é, não existe melhor retrato do que este do metabolismo celular. A célula, porém, não é inteiramente autônoma, pois através de sua “membrana” – resistente, mas permeável – ocorre um vai e vem contínuo de material orgânico. É sempre o “meio ambiente” local que dá sustento à Vida, permitindo, inclusive, (raros) momentos de superação. Mas não existem comandos externos, ou causas únicas. As células se renovam permanentemente, e isto “por própria conta”. Elas, sem causa externa, tiram cópias de si mesmas, ou “se auto-replicam” como dizem os entendidos. Qualquer mudança é sempre fruto da ação conjunta da célula toda, e a Vida apenas permanece como fruto de relações. Qualquer isolamento significa morte. Uma espécie de fraternidade faz, portanto, parte da essência da Vida não-consciente. Se na Vida consciente as coisas, frequentemente, são diferentes, não é a conversão ecológica, ressaltada pelos últimos papas, a única solução? A mesma teia de interrelações colaborativas que caracteriza a célula, caracteriza também o órgão no qual a célula está inserida. E assim também o organismo e as interrelações entre órgãos e organismo. Não importa tratar-se de uma humilde planta, um animal feroz ou qualquer outro ser vivo. Apenas a Vida consciente pode interferir no padrão das relações vitais, no sentido de efetivamente contrariá-las.
II –  Biomas: teias de vida partilhada
Estendendo agora o nosso olhar para os grandes biomas devemos, em primeiro lugar, perceber que a mesma teia de relações que caracteriza a Vida da célula caracteriza também o bioma. O caráter bioquímico da Vida não permite exceção à regra. Assim como a célula, o órgão e o organismo, também o bioma, por maior que seja, não é inteiramente autônomo. Através de suas divisas – sua “membrana” permeável – ocorre um permanente vai e vem de energias cósmicas que lhe dão sustento. As nuvens carregadas de vapor do mar trazem água, o elemento mais precioso e indispensável da natureza. Sobras são passadas adiante. Os ventos expulsam o calor excessivo do ar, restaurando a temperatura ideal. A energia solar está abundantemente disponível para a fotossíntese de todas as plantas verdes. Da mesma forma o oxigênio, fornecendo energia às mitocôndrias de todos os seres viventes. Como já vimos, é o meio ambiente adequado que permite à Vida prosperar.
Mas cada bioma tem também sua personalidade própria, sua identidade. E esta, também, se renova e se perpetua “por conta própria”, graças às inúmeras relações colaborativas que são específicas a ela. Um exemplo prático talvez ajude a esclarecê-lo. Recentemente, numa viagem ao sul do Pantanal com alguns familiares, passamos por uma estreita estrada de terra rumo à Pousada & Camping Santa Clara. Num determinado percurso de não mais de 30 km. passamos por quase 40 pontes de madeira, todas de difícil manutenção. Ao lado da estrada uma imensidão de água de sete metros de profundidade, quase cobrindo a mata verde, buscando uma saída apressada por baixo das pontes. Perguntando ao rústico mas bem informado guia turístico da Pousada sobre o porquê de tantas pontes de difícil e cara manutenção, obtive uma resposta muito esclarecedora. “Aqui no Pantanal”, dizia-me com simplicidade o simpático guia, “dependemos muito da água. Nas águas altas nem acesso à Pousada não tem. Repare naquela árvore. A parte mais escura do casco mostra que a água, ainda há pouco, estava acima da estrada. As muitas pontes estão aí para a água escoar o mais depressa possível. Daqui a dois meses todos os pastos por aqui estarão secos. Temos agora as últimas chuvas de verão. Elas são muito importantes para nós. O sedimento das águas deixa uma fina camada de lodo sobre as raízes da grama, não permitindo que a nova grama se desenvolva bem para o gado comer. A grama tem que crescer antes do tempo da seca. Sem estas chuvas o gado pode morrer e eu perco o meu emprego.”
Tiro na mosca. Da sabedoria humilde de um experiente pantaneiro recebi uma grande lição ecológica: cada bioma é uma autêntica teia de vida partilhada. Todos/as dependem de tudo e de todos/as. Na estrada passamos, de fato, por uma grande boiada, voltando dos poucos campos altos para as grandes baixadas. Seguramente mais de mil bois, todos miseravelmente magros, à espera de novos e mais generosos pastos. Entendi que, originalmente, cada bioma tem sua economia muito própria. Pareceu-me até que os boiadeiros haviam encarnado o lento mas seguro ritmo das estações. Amavelmente nos deixavam passar, mas sem nenhuma pressa, deixando aos bois a decisão de sair ou não do caminho. Nas pousadas por onde passamos encontramos na mesa os produtos locais, sempre com algum toque diferente, original. Produtos oferecidos com orgulho pantaneiro. Nas conversas não apenas o sotaque, mas todo um jeito próprio de sentir as coisas do lugar e contar sua história. Uma “cultura” própria, diríamos nós. Em fim, cada bioma com seu jeito particular de viver, conviver e sobreviver. Assim como na célula, assim no bioma. Uma grande teia partilhada.
Volto a perguntar: trata-se de um exagero falar em “fraternidade biológica”? Entendo que não, porque a mais perfeita fraternidade cristã nada mais é do que pôr em prática, conscientemente, o que a própria “Vida” é de forma inconsciente. A Vida é sempre uma teia de relações colaborativas. Em qualquer nível, por onde olharmos para ela, em nenhum momento encontramos a imposição de algum elemento não-colaborativo ou mal intencionado. É comum alguma influência estranha ou até ameaçadora entrar no sistema, mas o conjunto das relações colaborativas estará apto a oferecer resistência e recuperar o equilíbrio, ou então, lentamente, adaptar-se. Como tudo está interrelacionado, qualquer “meio ambiente”, grande ou pequeno, estará sujeito, historicamente, a momentos de crise, ou até, esporadicamente, a grandes cataclismas, mas sempre de novo cada sistema, e os diferentes sistemas entre si, por suas próprias forças vitais internas, voltarão, adaptando-se, ao velho ou a um novo equilíbrio.
Não é o tema de reflexão deste artigo, mas é preciso fazer menção a algo misterioso que as ciências da Vida têm muita dificuldade em captar. Algo natural, pois a ciência, por si só, não pode captá-lo. Apenas pela fé é possível captar o sentido mais profundo daquilo que chamamos “Vida”. O renomado filósofo alemão, Hans Jonas, usa uma expressão muito adequada. Em toda a criação, ele diz, existe um “horizonte de transcendência”. Por mais de um bilhão de anos, a Terra desconhecia a “Vida”. Apenas o interminável intercâmbio entre os elementos físico-químicos, em resposta ao meio ambiente cósmico. Mas existe uma espécie de “fraternidade inicial” entre os elementos da natureza. Suas diferentes polaridades elétricas os levam a “transcender” a individualidade e formar conjuntos marcados pela estabilidade. Em especial o carbono – a mãe de todos os produtos orgânicos – se presta a incontáveis combinações. Logo que o meio ambiente da Terra o permitiu, a fraternidade inicial evoluiu para a “fraternidade bioquímica” ou biológica que acima retratamos. De estágio em estágio, esta evolui na direção de uma complexidade cada vez maior. Dissemos acima que “o caráter bioquímico da Vida não permite exceção à regra”. Pois, a própria tendência à transcendência faz parte da regra! Após 620 milhões de anos de evolução, o cérebro humano possibilitou ao ser humano criar consciência de si mesmo e captar “o sentido” da Vida. Aí surge a “fraternidade consciente”, a marca registrada de todas as religiões, entre as quais a cristã.
Ninguém sabe qual o ponto final do processo. O inexistente não se sujeita à comprovação científica. Apenas a fé pode intuir a continuidade do “horizonte”. Nós, cristãos/ãs, acreditamos num “Reino” a construir, a “Nova Jerusalém” que, mais do que uma conquista, será um dom, pois “descerá do céu” (Ap 21,10). Ainda há um longo caminho à nossa frente. Quem sabe, uma globalização mais positiva possa um dia levar a humanidade a ter relações colaborativas muito mais amplas e profundas. As fraternidades conscientes construirão então a “Vida em Plenitude” sonhada por Jesus (Jo 10,10). Felicidade humana nada mais é do que isso.
III  – Por uma pastoral “em defesa da Vida”
Ocasionalmente alguns me perguntam: suas reflexões pastorais não são um pouco utópicas, longe da realidade pastoral do dia a dia? Digo: sim e não. A reflexão que acabo de fazer pode parecer teórica – e é -, mas ela é indispensável para quem, – padres, irmãs ou leigos/as -, se propõe a fazer algo concreto na direção do que pede a CF de 2017. Querer atuar “em defesa da Vida” sem ter uma clareza maior do que a “Vida” é, facilmente leva a equívocos. Apenas teorias, é verdade, de nada adiantam, pois a pastoral é feita de ações concretas, mas construir muros sem adequar o prumo é ilusório. É desperdício do nosso precioso tempo. Já dizia Santo Agostinho (†430) que não adiantam os grandes passos quando feitos nos caminhos errados. Por outro lado, lembrando meus tempos de professor de Pastoral, aprendi que “receitas prontas” não são muito educativas. Como vimos, a Vida apenas prospera com colaborações “autônomas”, embora integradas. Vamos tentar chegar mais perto do dia a dia sem cair na armadilha de aprisionar a criatividade.
3.1 Romper a couraça institucional
Esta é, no meu entender, a primeira pré-condição para um bom trabalho “em defesa da Vida”. E, acredite, ela mexe profundamente com nosso dia a dia. Se o papa insiste numa “Igreja em saída”, é porque estamos demasiadamente presos aos nossos incontáveis e incontornáveis compromissos paroquiais (ou institucionais). Estou em paróquia e sinto o desafio diariamente. Existe uma ciência, a da “cognição” ou “do conhecimento”, que afirma: nosso modo de atuar define o nosso modo de pensar! É, humanamente, quase impossível romper com as tradições que nos prendem, com as convenções sociais que nos ditam as regras, e com o contexto sócio-cultural que nos impede de ver o que está para além do nosso horizonte. Via de regra, o que se sedimentou no inconsciente fala mais alto do que o consciente.
Ora, não esqueçamos – especialmente nós, agentes pastorais, padres, religiosos/as ou leigos/as – que a Igreja, durante séculos, se manteve “avessa” ao mundo. A Igreja-Instituição se voltou com exclusividade para as preocupações intra-eclesiais. Depois do Concílio Vaticano II, marcadamente na América Latina, houve uma curta reação. As CEBs e as Pastorais Sociais deram um novo rosto à Igreja, mas, globalmente, as forças renovadoras não prevaleceram. Sem uma sacudida forte no ministério ordenado, especialmente por parte do Vaticano, o clericalismo irá prevalecer e os padres – em geral os animadores gerais do processo – se verão, na prática, presos aos limites impostos pela instituição. No momento do “agir”, a CF, seja no social, seja no ecológico, irá propor, sugerir, etc., mas ficará apenas no papel. Romper couraças institucionais é muito mais difícil do que imaginamos. Requer uma espécie de conversão. Quem quer partir “em defesa da Vida” deve largar (em parte!) a agenda paroquial, mobilizar tempo, e ir para onde a “Vida” corre perigo.
3.2 Saber articular-se
Esta é outra pré-condição. Hoje, em quase todos os cantos do Brasil, tem gente se preocupando com o meio ambiente. O grande bioma, pela sua enorme extensão, costuma ficar fora do alcance dos binóculos, mas lembrem: a “Vida” é feita de relações colaborativas. São tão importantes os níveis locais quanto os maiores. O bioma costuma ser dividido em grandes “bacias hidrográficas”. Estas são feitas de diferentes “sub-bacias” menores. E cada bacia menor se constitui de inúmeras “microbacias”. A “Vida” surgiu da água, e dela depende. Você que é padre, irmã, ou leigo/a, não vale a pena dar uma olhada ao redor, ver quem já está atuando, ou querendo atuar, e “articular-se” com estas pessoas “em defesa da “Vida”? Em certa fase de minha vida tive a oportunidade de atuar junto a uma ONG de meio ambiente de um pequeno município no interior do estado de São Paulo (na grande bacia hidrográfica do Rio Piracicaba).3 Fiz uma pequena cartilha popular sobre as 16 microbacias do município (Holambra). Cito uma parte do texto: “Microbacia é uma pequena área geográfica; toda água nela existente, ou toda chuva que nela cair, acaba fluindo para o mesmo córrego que lhe dá o nome”. E em destaque: “Todo ser humano vive numa microbacia. Não permita que se jogue qualquer sujeira nela. A microbacia é a sua casa”!
Você, leitor/a, já sabe o nome de “sua” microbacia? Procure saber e mãos à obra.4 O importante é “articular-se”. Mas, “ah!, são de outra religião”. Não importa. “São de outro partido”. Também não importa. “Não são da nossa paróquia”. Importa menos ainda. A única coisa que importa é “defender a Vida”. Com essa mania da nossa Igreja (ou será dos nossos bispos?) de apenas incentivar as pastorais “internas”, a “Vida” lá fora está numa agonia danada. Para muitos já é tarde demais para reverter a situação. Aliás, essa imperiosa necessidade de melhorarmos as nossas articulações não tem a ver apenas com o meio ambiente. É igualmente importante para todas as nossas pastorais sociais. Se em décadas passadas estas foram, quem sabe, até supervalorizadas, hoje elas – quando ainda existem – estão numa situação de dar dó. Frequentemente não existe mais nada, nem na Paróquia, nem na Região Pastoral. Não custa, porém, dar início a algo novo. Ultimamente, o que tem dado certo é a criação de pequenos “fóruns”. São mais maleáveis, pois podem priorizar ora a questão social, ora a questão ecológica. Por aqui criamos, de forma suprapartidária e suprarreligiosa, o nosso “fórum de entidades”. Estamos, neste momento, na preparação de um “Ato Ecumênico contra a violência” e, também, na preparação da nossa “Sexta Caminhada Ecológica”. Para esta última ainda falta definir o foco.
3.3 Focar nos inimigos do bioma
Seria muito saudável que todos/as fizéssemos uma boa análise da surpreendente Encíclica Laudato Si do papa Francisco. Não fala de biomas, mas está perfeitamente dentro daquilo “que a Vida é”. Mais de trinta vezes aborda o tema “tudo está interligado”.5 Mas, como o atual sucessor de Pedro não é de dar pontos sem nó, quase quarenta vezes cita como causa principal de uma eventual “catástrofe ecológica” (nº 4) o atual paradigma tecnocientífico, visto por todos os governos como o único caminho de enfrentamento e superação. Uma verdadeira ilusão global. Todos os biomas são fruto de uma delicada interrelação entre o clima predominante na área e uma grande variedade de condições locais, tais como: o tipo de solo, fauna e flora, a distribuição geográfica das águas, a densidade populacional, as condições de mercado, e até a tradição cultural das populações originárias. O que faz o tal paradigma tecnocientífico? Desconsidera e atravessa todas as condições específicas do bioma e impõe um sistema “exógeno” (extra-biômico) e único de produção e consumo, sem qualquer preocupação com as consequências sociais e ecológicas. Rasga-se simplesmente toda a “teia (tradicional) de vida partilhada”. E, como vimos acima, rasgando a teia da “Vida”, a morte é certa.
Evidentemente, trata-se de uma realidade mais visível nas áreas rurais do que nas áreas urbanas. Vocês que atuam numa área rural, seja na catequese, na liturgia, no dízimo, na pastoral familiar, da juventude, ou em qualquer outra pastoral ou movimento, já pensaram como incluir esta questão da defesa da “Vida” em sua agenda de trabalho? Vejam ao seu redor e reparem aonde o paradigma tecnocientífico está fazendo seus maiores estragos. Pode ser uma reserva indígena ameaçada que necessita, urgentemente, de apoio; uma quilombola prestes a ser invadida e fatiada pelo “progresso”; a crescente leva dos sem-terra; uma grande área de ribeirinhos que vê minguar sua tradicional fonte de proteínas (peixe?; produtos naturais?); uma rica reserva natural clamando por defensores; ou então, como ocorre na maioria dos casos, uma rica e produtiva agricultura orgânica e familiar que perde mercado porque todos/as se deixam seduzir pelos belos produtos apregoados na mídia. Ninguém se mexe, ninguém conscientiza, ninguém se articula contra? Perdida em meio às suas múltiplas e bem-intencionadas preocupações intra-eclesiais, a Igreja não pode correr o perigo de, pela omissão, ser como o “fermento” dos fariseus contra o qual Jesus admoestou os seus discípulos (Mt 16, 5-12)?
3.4 Valorizar o bioma como berço da fé
A configuração concreta da fé não é o/a missionário/a quem traz, mas o chão do bioma. O planeta Terra apresenta um grande mosaico de biomas. Em cada um deles, a “Vida”, como já vimos, tem rosto próprio. Os antropólogos culturais costumam ressaltar as grandes diferenças nos costumes e tradições das diferentes tribos e etnias. Nestas tradições, por mais que a modernidade queira eliminá-las, a fé ocupa um lugar central. Por quê? Simplesmente porque é, antes de tudo, o bioma que condiciona o modo do viver, do conviver e do sobreviver. Daí, desta realidade, nasce a comunicação humana, o modo de falar e o modo de pensar. Para manter a “Vida” de cada coletividade, inúmeras relações colaborativas são necessárias. Uma das principais é a busca coletiva do “sentido”, e é desta busca coletiva do sentido que nasce a fé da comunidade. O bioma é como que o berço da fé.
O chamado mundo cristão ocidental, com sua ânsia globalizadora – tanto na economia como também na fé -, por um longo tempo tentou passar por cima de tudo isto. Na economia, o pensamento único ainda é quase total, embora cresça, entre os descartados, a força de uma proposta alternativa (a economia solidária). Na fé, porém, as coisas já mudaram um bocado. Embora ainda com alguma restrição por parte do Vaticano, a ideia de uma “Revelação diferenciada”, tão cara ao teólogo belga Jacques Dupuis (†2004), se impôs entre os teólogos e, cada vez mais, também no senso de fé do povo cristão. Deus se revela em todas as religiões, e quanto maior o diálogo fraterno, mais rica a humanidade. Há quem creia que todas estas expressões de fé, que surgem das tradições populares, pertencem à “civilização agrária” que chegou ao fim. Seria preciso então mirar em algo totalmente novo para o futuro. Mais do que isso, creio que é preciso olhar para trás. Para o chão do qual nasce o ser humano e sua fé. Para a vida biológica que configura a “Vida” do ser humano. Um ser humano que sempre estará em busca de um sentido para a sua Vida, a fim de preservá-la o melhor que pode. Seu único recurso: a fé! Inclusive para ditar o rumo de sua economia.
Tudo isso é, pastoralmente, muito relevante. A missão da Igreja não deve ser globalizadora, mas “localizadora”. Valorizar mais a riqueza que cada bioma traz em defesa da “Vida”: acolher os modos de pensar característicos da população na evangelização, adotar as expressões típicas de sua mística na liturgia, e apoiar os caminhos próprios de sua população para superar os problemas por meio da ação sócio-transformadora. Em REB 298/2015, o missiólogo Paulo Suess comenta a fala do então (1992) cardeal Ratzinger, na comemoração do 5º Centenário da conquista das Américas, em Salzburg (Austria), tratando do tema “Evangelho e Inculturação”. Firmemente ancorado nas verdades incontestáveis da Congregação da Doutrina, o cardeal opina que uma “Páscoa curativa” deve sanar todas as culturas, não bastando a mera inculturação da fé. Dá para entender a preocupação do futuro papa, mas nós, cristãos/ãs, também precisamos de uma Páscoa curativa. A própria “Vida” nos ensina o caminho: o do diálogo fraterno, sem imposições.
Conclusão
Estabelecer um nexo entre biomas e fraternidade cristã, até muito recentemente, seria impensável. Mesmo hoje é preciso enfocar o tema de forma adequada para não tirar conclusões apressadas e sem nexo. Talvez, mais do que uma questão de doutrina, seja uma questão de espiritualidade. No cristianismo, mais importante do que o conhecer é o viver, o praticar.
Perceber que a fé cristã tem algo a ver com o ar que respiramos, com a flora e a fauna, e com as paisagens, as águas e o mar; dar-nos conta, enfim, que tudo está interligado, que não somos donos, mas parte da natureza, e que “somos todos terra”, como afirma o papa Francisco (LS 2), tudo isso está mais para sentimento, empatia e emoção do que para frias argumentações doutrinais. A Bíblia toda expressa esta reverência. Jesus a manifesta quando fala dos lírios do campo, e Francisco de Assis faz o mesmo quando pede ao irmão Antonio para, mais do que ensinar a doutrina teológica aos frades menores, se preocupe em ensinar o caminho da piedade. Sem uma mística, o ser humano não muda suas atitudes (LS 216).
Foi ao escrever este artigo que veio-me a ideia de fazer distinção entre fraternidade inicial, fraternidade biológica e fraternidade consciente. Não tenho dúvida que ocorreu um processo evolutivo neste sentido. A consciência humana, aliás, continua em evolução. Sem isto seria incorreto falar em “nova” concepção de vida fraterna. O amar ao próximo como a si mesmo não foi “inventado” por Jesus, como às vezes é sugerido. Já fazia parte da Antiga Aliança. Esta concepção religiosa nem é própria apenas da tradição semítica. Ela, embora com linguagens as mais diversas, é própria de todas as religiões, da humanidade enfim. Por trás de uma certa antropologia cultural – que marcou a nossa história escrita – devemos perceber a antropologia biológica que a antecedeu…. e que continua fortemente presente. Não se trata de uma linguagem meramente metafórica.
Na filosofia da nossa assim chamada pós-modernidade podemos observar uma fortíssima e surpreendente tendência para repensar a incansável busca humana por espiritualidade. Também a teologia moderna está em busca de um novo pensar sobre Deus e a religiosidade humana. Por mais importante que seja não perder de vista a riqueza das doutrinas acumuladas no passado, as ciências da “Vida” parecem sugerir que o melhor caminho talvez seja o de atentar melhor para “a Vida como ela é”, para assim captar, com maior segurança, o que possa ser a “Vida em Plenitude” almejada por Jesus. Neste sentido, também os biomas têm uma lição a dar. Que a Campanha da Fraternidade de 2017 nos ajude a não perder o foco.
Nicolau João Bakker, svd

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