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Fizeram-me, um dia, uma pergunta que na hora não me pareceu muito importante. Preocupado com o que estava fazendo ou pensando, dei uma resposta vaga. Depois, vieram as dúvidas: será que eu não deveria ter dado mais importância ao que me foi perguntado? Minha resposta não foi muito superficial? Como foi que não percebi que aquela pergunta merecia uma resposta mais estudada? De interrogação em interrogação feitas a mim mesmo, voltei a me lembrar várias vezes da pergunta feita pela senhora que cruzara casualmente o meu caminho – e que era mais ou menos assim: “Por que será que em nossa família e nos momentos vividos com pessoas amigas, nas festas que organizamos, nos encontros especiais que vivenciamos, também nas horas de tristeza que enfrentamos, por que será que sempre falta alguém?”
Acredito que não há uma resposta definitiva para essa questão, mas uma resposta que cresce, que se completa, que se aprofunda. Pensando em minhas próprias experiências e, particularmente, nos encontros familiares – membro de uma família de nove irmãos, as festas se multiplicavam em minha casa! – lembro-me que sempre faltava alguém! Por vezes, era eu que faltava, pois estudei vários anos em seminários, longe da família. Depois de alguma festa familiar, era comum eu receber uma carta com fotos e mensagens que machucavam meu coração, pela saudade que despertavam: “Pena que não estavas aqui conosco!”.  Ao longo da vida, continuei percebendo que sempre falta alguém!
Sempre falta alguém... Talvez falte um amigo que gostaríamos de ver sorrir, participando de nossa alegria, mas que não pôde comparecer à festa programada. Ou um irmão que ficou impedido de viajar, deixando um vazio no encontro que prometia ser inesquecível. Poderá faltar um parente, uma pessoa conhecida, um colega de trabalho ou de escola que, pouco antes do encontro marcado, telefonou: “Olha,  infelizmente não poderei ir...”
Às vezes, por mais que se imponha a dura realidade de que determinado irmão ou amigo não voltará jamais, de que será um eterno ausente em tudo o que fizermos ou promovermos, ficamos à espera de alguém que venha e nos diga: “Aguarde um pouco: ele está chegando!...".
Sempre falta alguém... Ou se aceita que essa limitação faz parte de nossa vida ou a vida como tal nos parecerá um tanto absurda, uma brincadeira de mau gosto.
Sempre falta alguém... A aceitação dessa realidade nos dará a exata dimensão da existência humana. E nos fará compreender melhor o sentido da vinda de Cristo ao encontro dos seres humanos – ao nosso encontro. Ele, que é a própria Vida, vem para trazer a plenitude da vida a cada um de nós. Sua vinda não é algo “a mais” na história da humanidade. Nem sua presença é apenas interessante ou, quando muito, louvável. Conhecedor profundo da natureza humana, Cristo vem nos completar. Vem preencher os vazios das inúmeras ausências que sentimos, principalmente daquelas que nenhuma fortuna do mundo conseguirá restituir-nos.
Sempre falta alguém... Mas o próprio Cristo – contínua presença ao longo de nossos passos, a partir do momento em que, há dois mil anos, entrou em nossa História – ele mesmo às vezes aparenta estar ausente. Mas ele nuca falta: nos é que não sabemos vê-lo. Nessas horas, nossos olhos estão como os de Paulo, depois da experiência na estrada de Damasco: cobertos por escamas (cf. At 9,18). E não conseguimos ver nada. Não percebemos os inúmeros sinais de amor que, diariamente, ele coloca em nosso caminho. Assemelhamo-nos a seus contemporâneos, que não conseguiam percebê-lo: "Estava no mundo... e o mundo não o conheceu" (Jo 1,10).
Cristo ressuscitado vem ao nosso encontro para fortalecer nossa esperança. Sua vitória sobre a morte nos dá a certeza de que, de fato, ele permanecerá eternamente conosco.  Sua presença dá sentido a todos os momentos de nossa vida, inclusive aos que estiverem marcados pela ausência de um irmão, de um amigo ou de um companheiro de lutas.
Sempre falta alguém... O importante – o essencial! - é não faltar Cristo em nossa vida.

 

Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

 

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