
Um dia, quando se escrever um livro sobre o nosso s�culo, talvez se escolha como t�tulo: �A �poca dos homens sem tempo�. Afinal, nenhuma justificativa � t�o usada como a da falta de tempo. Ningu�m tem tempo. Nem os adultos (no telefone, depois de n�o ter ido � reuni�o: �Pois �, infelizmente n�o tive tempo...�), nem os jovens (ao professor na Faculdade: �Por que ainda n�o entreguei o trabalho? Tempo, falta de tempo!...� ) e at� as crian�as (� m�e, que pede ao filho para fazer um servi�o: �Ah! M�e, logo agora que n�o tenho tempo?�). Alguns n�o se dedicam a clubes de servi�o porque n�o t�m tempo. Outros n�o visitam seus parentes porque �n�o se tem mais tempo para nada�. Aquele jovem n�o estuda, este n�o trabalha e voc� nada l� porque lhes falta tempo. �Os homens n�o t�m mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas, como n�o existem lojas de amigos, os homens n�o t�m mais amigos�, � a ir�nica observa��o da Raposa ao Pequeno Pr�ncipe. A conclus�o a que se chega � conclus�o �bvia, clara, cristalina � � que h� alguma coisa errada. Essa evid�ncia se acentua quando se ouve a desculpa daqueles que cortaram, aos poucos, todo relacionamento com Deus, por um motivo muito simples: n�o t�m tempo! �Gostaria de ir � missa, mas n�o tenho tempo. Desejaria ler o Evangelho, pensar nos outros, rezar, ser volunt�rio em algum hospital mas, infelizmente n�o tenho tempo�. Se o ser humano n�o tem mais tempo para cultivar sua amizade com o Pai ou para ir em dire��o a seus irm�os, alguma coisa est� mesmo errada. Demos, pois, uma de pesquisador: procuremos o culpado por essa situa��o insustent�vel. Seria Deus? Afinal, foi Ele que deu o tempo ao ser humano. Mas, talvez lhe tenha dado pouco tempo: afinal, h� tanto que fazer!... Contudo, convenhamos: seria um absurdo pensar assim. Ele certamente d� aos homens e mulheres o tempo suficiente para que possam fazer o que Ele quer. Mais: Ele s� espera de cada pessoa o que ela tem condi��es de fazer. O problema da falta de tempo teria como causa o pr�prio ser humano? (De voc�, por exemplo?). Afinal, quem consegue realizar tudo o que gostaria? Dada � nossa insatisfa��o cont�nua, por mais que algu�m aja, fale ou pense, sempre falta pensar, falar ou� fazer alguma coisa. Novos horizontes se abrem diante de cada caminho percorrido. O que fazer, ent�o? (�Fazer mais alguma coisa ainda? Mas eu j� disse que n�o tenho tempo!...�). Abra o Evangelho. Ou�a o que Cristo tem a dizer sobre isso: �Marta, Marta, tu te preocupas com muitas coisas. E, contudo, uma s� � necess�ria�. O que seria o essencial na vida, o �nico necess�rio? Deve se tratar, sem d�vida, de uma realidade que permane�a sempre, que n�o passe com o tempo, que continue a existir mesmo ap�s a morte � que �, para cada um, o fim do tempo. Um dia, um doutor da lei perguntou a Jesus o que era mais importante � isto �, o que � que era essencial e resumia sua doutrina. A resposta do Mestre foi simples: o amor. O amor ao Pai e o amor aos irm�os. O resto, isto �, o que cada um vai fazer, pensar ou dizer,� ser� uma consequ�ncia de seu amor. Ora, se algu�m n�o tem tempo nem para se doar, que pobreza! Talvez seria melhor n�o ter recebido tempo algum!...Dom Murilo S.R. Krieger, scj Arcebispo de S�o Salvador da Bahia - BA