O pensamento é coisa bem interna de cada pessoa, com a base neurológica suficiente para ele se fazer, armazenar-se e se desenvolver. Mas há tantos condicionamentos de influência externa, que podem manifestar-se como reflexo dos outros, se não forem perpassados pela crítica ou reflexão do consciente da pessoa que o detém. Hoje muitos pensamentos e ações deles conseqüentes se dão com a invasão “goela abaixo” de aliciadores gratificantes dos sentidos por grande parte da mídia. A educação nem sempre é uma dinâmica feita pela própria pessoa humana. Pode ser resultado de condicionantes que atuam no não consciente da pessoa e a faz repetir o que lhe foi colocado no cérebro através do estímulo dos sentidos. Ela deveria ser, no entanto, ato consciente de filtração do que lhe é apresentado com seus valores ou contravalores. Assim ela assumirá a responsabilidade da aceitação ou não dos mesmos. Seria a educação responsabilizadora do sujeito humano.Hoje há uma ênfase na educabilidade da pessoa: a sobrevalorização da subjetividade. Nela os valores objetivos são filtrados pelo interesse individual, a ponto de serem rejeitados se não satisfizerem o apetite de gratificação imediata da pessoa. São como a vontade própria de adolescente que quer autoafirmar-se. É verdade que todos desejamos ver nosso desejo respeitado. Mas não podemos simplesmente rechaçar valores que não dependem de nossa vontade e são asseguradores de nosso bem pessoal e social. A própria bíblia mostra a experiência de um povo que queria construir a própria história sem os ditames do Criador. Foi certamente uma experiência dolorosa. Era como querer caminhar com os próprios pés, mas sem proteção numa terra árida e muito quente. Mais: sem a direção que o levaria ao seu objetivo. Deus mesmo adverte: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não como os meus caminhos” (Isaías 55,8). De fato, quando o povo, de cabeça dura, percebia que não dar ouvido a Deus era péssima decisão, resolvia voltar-se à indicativa divina, através do estímulo de patriarcas, como Moisés, bem como de tantos profetas!Os pensamentos de Deus não são de puro interesse dele. Aliás, Deus só quer nosso bem. Ele nos deixa à vontade. Se quisermos ir por outros caminhos ele não nos impede. Seu interesse é que nos responsabilizemos por nossas escolhas. Mas Ele insiste sobre a finalidade da caminhada e os meios para conquistá-la. Ensina-nos, de modo bem humano, através do Filho, como fazer para termos sucesso. Só conseguiremos a felicidade autêntica se afinarmos nossos pensamentos com os dele. Quanto mais o ser humano ouvir a Deus, mais ele se humaniza. Nossa educação altamente humanizante se dá na caminhada indicada pelo Criador. Hoje se quer muito, não só laicizar tudo o que é público, mas paganizar e materializar tudo. Desta forma, o prazer pelo prazer é buscado a qualquer custo. O desrespeito à vida, à família, ao meio ambiente e aos empobrecidos ficam à mercê da boa vontade de minorias. Se não ouvirmos a Deus, que nos fala também pelo bom senso e a ética, seremos dominados pela autossufiência derrotadora dos valores que dão base à sustentabilidade de nossa sociedade.Dom José Alberto Moura, CSSArcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG