Descobriu-se o controle da maioria dos casos de câncer. Debelou-se a varíola e a febre amarela; circunscreveu-se o ebola, controla-se a dengue, a tuberculose e centenas de enfermidades que, ontem, levavam à morte. Mas o vírus da corrupção e do dinheiro fácil prossegue desafiador, em todos os países do mundo. Mas, dentre todos, o Brasil é um dos mais infestados.
Bandidos explodem caixas eletrônicos e enfrentam qualquer aparato porque sabem como recuperar o dinheiro manchado. E se forme presos sabem que em pouco tempo estarão nas ruas. Políticos e seus parceiros corruptos, entre os quais empresários de grande porte e até religiosos atuando no Congresso, conseguem burlar as leis. Quando podem, levam sua parte. E nada os detém na hora de desviar dinheiro para si, para seus partidos, para o caixa dois, ou na hora de levar vantagens com as informações obtidas no cargo que exerce. Alguns parecem estar lá, mais como olheiros que descobrem onde está o dinheiro do que como representantes do povo que votou neles.
A coisa pública para eles não existe. Se puderem meter a mão nela, a coisa também será deles. Se fossem apenas dois ou três, talvez o Estado já os tivesse derrotado. Mas parecem as lendárias formigas gigantes da Amazônia. Não há quem resista. Não há como exterminá-las com os recursos de hoje sem incendiar a floresta.
O território é deles. Em algumas regiões e morros controla-se até o tráfico que fatura milhões, mas a eles, que encastelados na coisa pública desviam bilhões, ninguém controla. A imprensa denuncia e prova, eles perdem por algum tempo e depois voltam poderosos como sempre, a controlar o quê: as verbas e os apadrinhados.
Há o pequeno e o grande corrupto. O grande, todos já viram que é quase impossível derrubar do seu galho. Levam tiros por todos os lados, mas não caem; antes, voltam rejuvenecidos após as eleições que os reinstalam no poder, para, de novo, serem pilhados em falcatruas. Deixar de roubar o povo? Jamais! Aquele dinheiro está lá pedindo para ser roubado! As leis são falhas, Ou se são boas, sua execução é lenta e leniente…
Há o que aprende, mas conversão não parece ser o forte dos saqueadores dos bens do povo. E não são cinquentinha, nem duzentão: são 70, 150, 700, 900 milhões de reais que magicamente desaparecem e que leva anos até se saber quem os levou. E eles negam peremptoriamente. Descobertos, vão presos, ou morrem, mas não revelam onde esconderam sua pilhagem. Piratas modernos, lembram o cão que esconde o osso e só ele sabe onde escondeu; e não adianta pressionar que não vai latir nem se denunciar.
É diabólico, mas seria safadeza? Seria maldade premeditada contra a nação? Ou seria doença como o é o alcoolismo e a dependência de tóxicos? Existe o vírus da corrupção que já vem de berço ou se contrai nos corredores de câmeras e assembléias e Congresso? Veio depois dos primeiros anos de política ou existia antes e, por isso mesmo seus portadores entraram para a vida pública, porque lá havia com o que alimentar sua fome de se apossar?
Pode-se votar num cidadão ou numa cidadã com esta irresistível tendência de surrupiar? Pode, tanto que o povo vota! Há uma lei em tramite chamada “ficha limpa” que já foi descaracterizada porque atingia gente demais… Veremos se, um dia, a lei da ficha limpa funcionará. No Brasil há sempre o recurso ao recurso!…E talvez esteja aí o X da questão. Eles sabem que poderão recorrer dez ou vinte vezes. Deve ser por isso roubam dez ou vinte milhões…
Padre Zezinho scj
José Fernandes de Oliveira
Sacerdote católico, educador e pregador.